sábado, 17 de março de 2012

Uma crónica com Cesário

A Noite Citadina
“E saio. A noite pesa, esmaga” Cesário observa a noite marginalizada pela sociedade do século XIX, que teme vaguear pelas ruas citadinas ao anoitecer. Pois para mim, por mais pesada que seja a noite, terá sempre os seus encantos.
Gosto de observá-la, gosto de compará-la, mas acima de tudo gosto de vivê-la. A noite, para mim, não pesa, nem esmaga, vive. Vive numa dimensão paralela à nossa, onde cada alma noturna que nela vagueia, tem uma história diferente da alma diurna.
A prostituta que naquele carro entra, durante o dia é a vizinha Lurdes. Dois filhos, empregada de loja, prestação da casa, luz, água, gás. É amiga, mãe, tia, filha, apenas durante o dia. De noite é o excremento de uma sociedade egoísta, aquela que já não serve, a marginal, a puta. A Lurdes do século XXI, é a mesma do séc. XIX. Continua a ser o prazer de muitos e o receio de outros. Mal sabem eles, que quem mais receia a chegada da noite, é Lurdes. Pois será ela que vagueará pelas ruas, será a julgada, a abusada, a mulher da vida.
Eu sou apenas uma espectadora da noite citadina. Nada temo, e nada julgo. Ao vaguear pelas ruas, também eu serei o pensamento de muitos. Tal como os outros são o meu pensamento. “O que fará aqui?” “Onde morará?”, São algumas das perguntas que me passam a mim e a muitos outros, que sozinhos passeiam pela noite. Perguntas às quais nunca iremos ter resposta. Mas não me incomoda, pois ao entrar em casa, esperarei pela chegada do dia. E enquanto a sociedade me deixar, serei sempre a mesma Elsa, seja de dia ou de noite. Não terei de recear a noite, nem o dia.
Elsa Severino nº9 11º E

Relatório de uma visita de estudo


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Santíssimo Tribunal da Inquisição,


Conforme pedido  por vossa excelência o inquisidor mor, relato aqui os eventos que tiveram lugar na passada missa de domingo, dia 14.  Dirigi-me à igreja de S. Roque para registar as provas de acusação ao pregador Padre António Vieira, tenho no entanto a informar vossa excelência que nada de blasfemo encontrei no seu discurso. Os seus lábios não teciam heresias, apenas verdades. O esplendor do seu sermão arrebatou os corações dos ouvintes e o meu. Deixou-me perplexo a fusão perfeita das palavras e da beleza da igreja. O fulgor da voz que falava do púlpito preencheu-nos a alma, assim como os floreados e dourados preenchiam as paredes. A humanidade do pregador assemelhava-se à dos rostos dos anjos que figuravam nas capelas. Todo o ambiente barroco que nos rodeava se unia incomparavelmente ao que ouvíamos. É assim impossível encontrar qualquer calúnia no meio de tal esplendor. Peço que retirem as acusações feitas ao Padre António Vieira pois se de alguma coisa ele é culpado é de dizer a verdade e de tocar os corações dos homens.

Margarida Gomes da Silva, 11º A

Relatório de uma Visita de Estudo


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                Irei agora até à Igreja de São Roque ouvir em surdina a doutrina pregada, palavras de mentirosos pregadores, em que pensam que a palavra jesuíta é a palavra da razão, não poderiam estar mais enganados.
Ao chegar à Igreja avisto um edifício áspero, rígido, nada bonito para o olhar, simples e nada chamativo, mas ao entrar, meu Deus ao entrar fiquei perplexo com tal beleza conseguida, tal austeridade, tal delicadeza. Uma igreja auditório como nunca havia visto, as variadas capelas eram todas cobertas a ouro e onde a ornamentação vegetalista e as figuras religiosas enchiam as paredes e até as colunas adossadas a cada capela. E o teto…  Um teto onde também reinava a representação de figuras religiosas com uma imensa técnica de trompe de l’oeil, numa tentativa de ilusão e profundidade. É bem visível que existe um horror ao vazio mas teve um resultado bastante compensador resultando numa composição fantástica de cores e objetos. Vindo eu de longe para ouvir as palavras de um pregador não consegui prestar atenção pois fui absorvida pela tamanha beleza interior do edifício. Seria mentira se dissesse que não estou deslumbrada com tal beleza.

Joana Courela, 11º A

Sujeito composto: brincar com a língua


O senhor sujeito composto
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                O senhor sujeito composto e a sua gabardina saíram de casa num belo dia de chuva. A porta foi fechada e o chapéu-de-chuva foi aberto enquanto o senhor composto passeava pelas ruas estreitas e alagadas da sua cidade. As pingas ao caírem faziam chap e chop, chap e chop sem pararem. O senhor composto e a sua gabardina andavam de rua em rua, de passeio em passeio e de estrada em estrada, de um lado para o outro. A uma certa altura o senhor composto com o seu chapéu na mão olharam para os seus pés e repararam que a estrada e o passeio não eram cinzentos, mas azuis, não era a estrada nem o passeio de certeza. Mas então sobre o que é que estaria a andar? Sobre o céu e as nuvens. O senhor composto, a sua gabardina e o seu chapéu-de-chuva estavam a passear sobre as nuvens. Mas porquê sobre as nuvens e o céu? Era sobre as nuvens e sob o céu porque o mundo estava virado de pernas para o ar.

Joana Courela, 11º A

Brincar com a língua


Aférese
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‘’Tá Calada!’, grita ela em pleno autocarro, fazendo a sua voz sobrepor-se a todas as outras que murmuram e até à do senhor do bigode farfalhudo que insiste em ligar aos seus amigos e falar-lhes aos berros.
Ela, uma jovem com os seus quinze anos, é a mulher de amanhã, aprecia, pelos vistos, comer sílabas. Pergunto-me o que fez ao resto do “está” porque ali é que não “tá”.
Assistimos aqui então a um processo chamado Aférese no qual um segmento deixa de ser articulado no início da palavra.
Assim sendo, e seguindo a lógica do acordo ortográfico será que, daqui a uns anos, quando aquela jovem de hoje, for a mulher de amanha, o nosso ver “estar”, passará a ser conjugado “tar”?
(talvez…)

Tomás Neves 11ºA nº25

Improvisação


A Riqueza
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A  riqueza pode ser manifestada de duas formas: riqueza material e riqueza espiritual, porque o que todo o homem procura é essa riqueza espiritual, apenas alguns a confundem com a riqueza material. Esta riqueza espiritual é a constante vontade descobridora humana, pois é essa vontade que nos faz seguir em frente, é essa vontade que nos faz lutar e perceber o quanto a vida é valiosa e é devido a esta vontade insaciável que nunca nos tornaremos verdadeiramente completos, se não, quando acontecesse isso, morreríamos, pois deixávamos de ter aquilo que nos torna humanos. 

Diogo Dias. 11º A