domingo, 2 de dezembro de 2012

Relatório da Visita de Estudo à Baixa Lisboeta de Fernando Pessoa




Visão de José Saramago

Foram dar ao Largo Camões entre as oito e as oito e meia, de mochilas às costas e empenhando nas mãos o bloco e o lápis ou caneta, conforme o gosto do freguês. Começaram avidamente a ler as perguntas que faziam parte de um questionário importante sobre a visita de estudo, do qual algumas das respostas eram dadas ao longo da mesma. Mal sabiam eles que essa visita iria durar mais do que esperado, resultando na debandada de alguns professores e alunos, mas isso veremos mais tarde, deixemo-los aproveitar o passeio enquanto podem.
  Alguns entraram na Brasileira, cafetaria originalmente situada no Rossio, a fim de descobrirem quantas pinturas lá havia, onze seriam elas, outros seguiram-nos quando se aperceberam que também lhes interessava obter essa informação. Os professores fizeram uma pequena introdução à Brasileira e ao Largo do Chiado, nome proveniente do facto de haver tanta pancadaria nos salões que até os edifícios chiavam, provavelmente também por culpa do Almada Negreiros, amante de ginástica, que entrava pela Brasileira aos saltos e aos pinotes, contando curiosidades, histórias de um fontanário, agora inexistente ali mas existente no Largo de D. Estefânia, que era um dos principais pontos de chegada do aqueduto das Águas Livres; história de bicas cuja própria palavra significa beba isto com açúcar devido à amargura que detinha a dita bebida.
Seguiram para o alto de Sta. Catarina, lugar do Miradouro do Mostrengo Adamastor, de onde as pessoas ficam a ver navios. Passaram pela Rua da Horta Seca, aqui o professor António Farinha, explicou aos seus alunos que ali se situava o Palácio do Manteigueiro ou Palácio da Horta Seca, atual Ministério da Economia e do Emprego. Continuaram a sua jornada por algumas ruelas até chegarem ao Miradouro, destino pretendido. Maria José, Maria Varela, Flávia Miguel, Ana Rita Pires e Inês Gomes apresentaram alguns textos sobre o hediondo Mostrengo referido na obra de Fernando Pessoa, Mensagem e n’Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, não o referi na minha obra porque para monstros bastam os homens. Continuaram a caminhada, passaram pelo Largo do Picadeiro, parando no Teatro S. Carlos para admirar uma estátua de ferro em honra ao tal Fernando Pessoa, que vai ser referido ao longo desta jornada até dizer chega, que consistia num homem com cabeça de livro, coisa estranha, banal nestes dias. Inês Gomes, Ana Rita e Sofia Azevedo leram o poema “Qualquer música”, devido ao facto do pai de Pessoa ser um crítico de música, Andreia Ratão e Inês Barreto leram o poema “Ó Sino da Minha Aldeia”, a propósito de ali se encontrar a casa onde Fernando Pessoa nasceu e viveu grande parte da sua infância.
Chegaram ao Largo das Belas Artes, onde se localizava a Biblioteca Pública, muito frequentada por Pessoa que ali ia para devorar livros, e o Convento de S. Francisco, atual Faculdade de Belas Artes, futuro destino de alguns Arroianos. Ali ao lado, na Calçada nova de S. Francisco, tinha havido um grande incêndio que destruiu todas as padarias que ali havia. Foi prometido aos padeiros que haveriam de ser construídas padarias para estes voltarem a trabalhar, mas tal promessa nunca foi cumprida. Isto lembra-me da promessa feita pelo Rei aos frades no meu romance Memorial do Convento. Neste caso, seriam os arquitetos a não ter filhos se construíssem as padarias, mas teriam sítio para comprar pão.
Voltaram à Rua Garrett para visitar a Basílica dos Mártires onde Pessoa fora batizado. Alguns dos pequenos, que na época de Baltasar e Blimunda já seriam grandes, entraram na dita basílica para observar o presépio de Machado de Castro que lá estava e o magnífico teto verde e rosa de Pedro Alexandrino. Sem perder tempo, caminharam até ao Elevador de Santa Justa para poderem ver as vistas, deparando-se com o grupo de loiros muito brancos que ocupavam todo o espaço do Elevador, voltaram para trás, vendo já caídos o Carmo e a Trindade.
A estação do Rossio era a próxima paragem, do estilo Manuelino e portas em forma de ferradura, sempre foi a estação de comboios principal de Lisboa. Desceram as escadas rolantes até à entrada principal onde duas moças da turma das sedas e das lãs leram um texto sobre a estação. Saíram para o exterior e duas protegidas de Elói, Maria José e Maria Varela, era o nome delas, leram o poema “D. Sebastião, Rei de Portugal” da Mensagem. No largo de João da Câmara onde Ofélia era secretária de uma empresa, um trio de alunos de têxteis leram cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia. Retornaram ao Largo do Rossio, lugar onde se situava originalmente a Brasileira, desta vez para merendar, visto que já era hora de recompensar o corpo pelo esforço que fez e fará. Acabado o banquete, escutaram, sentados ao lado da estátua, poemas de Pessoa e excertos do meu romance, que tratavam de algumas viagens de Baltasar por Lisboa, lidos por quatro alunos de têxteis muito agasalhados, devido às condições do tempo, que não eram de todo favoráveis.
Passaram por várias ruas lisboetas, como a Rua da Assunção, a Rua Augusta, a Rua dos Sapateiros, a Rua do Ouro, a Rua da Vitória, a Rua S. Julião, lendo sempre poemas e excertos das três obras que estão a estudar. Como todos os caminhos vão dar a Roma, eles foram dar ao Terreiro do Paço, onde seis dos aspirantes a ourives, Francisco Pastor, Tatiana Marques, Ana Potier, Inês Duarte e Diogo Madeira, leram excertos da minha obra e da do Fernando Pessoa, relacionados com aquele espaço e com espaços que supostamente iriam visitar, como a Casa dos Bicos, o restaurante Martinho da Arcada e o Campo das Cebolas, mas que não tiveram tempo para tal, como tinha previsto no início deste relatório.
Finalizadas todas as leituras, explicações e curiosidades, foram todos para seu lado, saindo de lá, talvez, um pouco mais cultos do que eram.

Inês Pires Duarte 12ºD nº14

Relatório da visita



I Parte

Foi no dia 13 de Novembro de 2012 que, a turma do 12º A da Escola Secundária Artística António Arroio, percorreu a Baixa de Lisboa no contexto da disciplina de Português de maneira a didaticamente estudarmos a vida e a passagem de F. Pessoa por ruas que muitos de nós já conhecíamos mas, que nunca tínhamos olhado como o palco da sua vida.
É certo que este roteiro estava diretamente ligado a Pessoa, mas não foi por isso menos abrangente, pois para além da influência deste, também outras personalidades estiveram presentes no decorrer da visita, personalidades como Luís de Camões (no contexto d'Os Lusíadas - que estudamos agora em paralelo com a Mensagem de F. P.) e José Saramago (no contexto do Memorial do Convento – a trabalhar no segundo período).
A visita foi feita na companhia da professora Risoleta Pedro de Português, e da professora Ana Azevedo de História da Cultura e das Artes, e, embora estivesse relacionada com a disciplina de Português, penso que foi uma mais valia a presença da professora Ana Azevedo pois, para alem da importância de toda a parte literária da visita que a professora Risoleta nos proporcionou, também foi muito interessante a inclusão do contexto histórico dos locais pela professora de H.C.A..
Esta visita também ganhou muito pelo facto de ter-nos sido atribuído (aos alunos) o papel de apresentarmos cada espaço, não só por que nos levou a estudar o espaço que nos calhou mais profunda e pessoalmente, como também nos aproximava mais da visita pelo facto de vermos colegas nossos a falarem, também porque, sendo todos tão diferentes, cada espaço foi abordado de várias maneiras pessoais tornando a visita mais elaborada e deversificada.
Gostei muito de ver o tipo de “caminho” que cada um escolheu para explorar o seu espaço, foi talvez o ponto mais interessante da visita no meu ponto de vista.
O roteiro passou por sítios como: A Brasileira, o Adamastor, o Largo S. Carlos, a Basílica dos Mártires, o Largo Bordalo Pinheiro, o Largo do Carmo, o Restaurante Leão pobre/leão de Ouro, a Estação do Rossio, o Largo D. João da Câmara, o Rossio, a Praça da Figueira, o Licorista, a Rua Augusta, a Rua dos Douradores, a casa de Mário de Sá Carneiro, a Rua dos Fanqueiros, a rua do Ouro, o Terreiro do Paço, o Cais das Colunas e por fim a Casa dos Bicos.
Cada um destes locais teve direito à sua apresentação e a recitações dos mais variados textos, sempre em sintonia com o tema da visita. E perto do final, mais precisamente no Cais das Colunas tivemos mesmo a oportunidade de largar no rio vários barquinhos de papel feitos por duas colegas nossas que tinham esse espaço para apresentar.
O meu grupo era constituído por mim e pela Ana António e calhou-nos a Estação do Rossio e a Rua dos Douradores nos quais apresentámos, respetivamente, os seguintes excertos:

Carta de Fernando Pessoa a Mário de Sá Carneiro.
Escolhemos este excerto pelo facto de Fernando Pessoa se deslocar à Estação do Rossio para vir esperar o seu grande amigo quando este regressava de Paris.

   “Lisboa, 14 de Março de 1916
Meu querido Sá-Carneiro:
Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental - uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto - que estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim.
Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá, e é esta a razão intima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.
(…)No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu estado de alma neste momento. Como à veladora do «Marinheiro» ardem-me os olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se.
(…)Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar. Pode ser que se não deitar hoje esta carta no correio amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e esgares dela no «Livro do Desassossego». Mas isso nada roubará à sinceridade com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
As últimas notícias são estas. Há também o estado de guerra com a Alemanha, mas já antes disso a dor fazia sofrer. Do outro lado da Vida, isto deve ser a legenda duma caricatura casual.
Isto não é bem a loucura, mas a loucura deve dar um abandono ao com que se sofre, um gozo astucioso dos solavancos da alma, não muito diferentes destes.
De que cor será sentir?
Milhares de abraços do seu, sempre muito seu
Fernando Pessoa

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Fernando Pessoa. 
Neste caso escolhemos este excerto pela notória presença da rua dos Douradores no texto.

“Hoje, em um dos devaneios sem propósito nem dignidade que constituem grande parte da substância espiritual da minha vida, imaginei-me liberto para sempre da Rua dos Douradores, do patrão Vasques, do guarda-livros Moreira, dos empregados todos, do moço, do garoto e do gato. Senti em sonho a minha libertação, como se mares do Sul me houvessem oferecido ilhas maravilhosas por descobrir. Seria então o repouso, a arte conseguida, o cumprimento intelectual do meu ser.
Mas de repente, e no próprio imaginar, que fazia num café no feriado modesto do meio-dia, uma impressão de desagrado me assaltou o sonho: senti que teria pena. Sim, digo-o como se o dissesse circunstanciadamente: teria pena. O patrão Vasques, o guarda-livros Moreira, o caixa Borges, os bons rapazes todos, o garoto alegre que leva as cartas ao correio, o moço de todos os fretes, o gato meigo — tudo isso se tornou parte da minha vida; não poderia deixar tudo isso sem chorar, sem compreender que, por mau que me parecesse, era parte de mim que ficava com eles todos, que o separar-me deles era uma metade e semelhança da morte.
Aliás, se amanhã me apartasse deles todos, e despisse este trajo da Rua dos Douradores, a que outra coisa me chegaria — porque a outra me haveria de chegar?, de que outro trajo me vestiria — porque de outro me haveria de vestir? (…)
E recolho-me, como ao lar que os outros têm, à casa alheia, escritório amplo, da Rua dos Douradores. Achego-me à minha secretária como a um baluarte contra a vida. Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar — ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas.”

“Bem sei que há ilhas ao Sul e grandes paixões cosmopolitas, e se eu tivesse o mundo na mão trocava-o, estou certo, por um bilhete para a Rua dos Douradores



II Parte

Bernardo Soares e o Roteiro pela Baixa

Passaram destacando-se, a princípio, apenas pela sua quantidade, era sem dúvida um qualquer projeto educativo, não me demorei mais do que o banal a olhar para aquele grupo de jovens. Rodei sobre mim mesmo e encostei-me à parede mais perto de mim à espera que passassem depressa e me deixassem de novo com os meus delírios sãos. Na verdade já era praticamente de noite, e a rua dos Douradores estava vazia, à exceção de mim e daqueles todos. Uma pequena grande multidão entre mim e a solidão que só os Douradores me podiam proporcionar neste momento. Encostado, fechei os olhos ignorando-os propositadamente.
Parecia que iam ficar, e ficaram não só por ficar, mas ficaram por mim, não diretamente por mim, mas inconscientemente pelo que fui e pelo que fiz, pelo que fiz do sítio onde estou. Falaram, leram e encheram-me os pensamentos de ternura e afeto. Eles estavam ali pelo mesmo que eu, não por si, mas pela Rua dos Douradores, pelo que escrevi sobre ela e pela sua significativa importância, que ultrapassa a simples importância de uma rua qualquer.

Mafalda. 12º A



Relatório Visita de Estudo




A visita de estudo realizada à Baixa “Pessoana, Camoniana e Saramaguense”, teve lugar no dia 9 de Novembro de 2012.
O ponto de encontro foi o Largo do Chiado, em frente ao café Brasileira, que continua a ser ponto de muitos encontros.
Descobri que o termo bica significa “beba isto com açúcar”, o que me aborreceu, tendo em conta que não bebo aquilo com açúcar. O café é sozinho, e sozinho devia beber-se. Ou talvez não, talvez a sugestão mais simpática fosse “beba isto como apetecer”. Não houve sequer tempo para café, apenas para olhar de repente para os 11 quadros expostos nas paredes da Brasileira.
Saímos e encontrámos o Mestre Lagoa Henriques  sentado à chuva, com Pessoa no pensamento. Sugeriu uma viagem até ao Miradouro de Santa Catarina, que era lá que gostaria de estar, mas que mover não se podia.
No miradouro encontrámo-nos com Pessoa e Camões, através das leituras relativas, ao também presente Adamastor ou Mostrengo, que a chuva parecia ter amainado.
De seguida, dirigimo-nos às Belas Artes, que foi outrora a Biblioteca Nacional, também frequentada por Pessoa. Passámos pelo Largo S. Carlos, pela Igreja dos Mártires, pelo Largo Camões, pelo Largo do Carmo, pela Estação do Rossio, até chegarmos ao Rossio propriamente dito, onde foi divulgada alguma correspondência trocada entre Pessoa e Ofélia, creio que Pessoa tenha até corado, sentido algum desconforto, mas certezas não as tenho.
Foi também no Rossio onde lemos o nosso excerto do Memorial do Convento ,  e onde fomos visitados por Saramago. Apareceu zumbindo e pousou no livro. Não disse nada nem antes, nem durante a leitura. Apenas no fim é que se pronunciou, Ainda chove, esta chuva queixosa, e queixando-se vai caindo o resto do dia.
Joana Nogueira nº13 12ºE

Relatório da visita de estudo




“Lisboa Pessoana”
                Hoje foi um dia diferente apesar de o frio ter continuado a abraçar-nos, como nos dias anteriores. Abandonei a rotina por um dia, e em vez de seguir rumo à escola caminhei em direção ao passado. O chão que pisava era o mesmo que Fernando Pessoa pisara e isso fez-me recuar no tempo, imaginar como as ruas eram habitadas, se eram muito movimentadas, as vestimentas das pessoas, os prédios, as rotinas... Esta tentativa de imaginar como seria a Lisboa Pessoana foi ajudada pelos professores e alunos presentes que, juntos, fizeram lembrar os espaços e monumentos mais relevantes desse tempo, através de textos escritos por Pessoa.
            (...)

Visita de estudo na pele de Fernando Pessoa
            Este dia foi palco de emoções contrastantes. Senti-me muito feliz por ter a oportunidade de poder reviver os espaços que frequentava, as ruas pelas quais passeava, e tinha, sobretudo, uma enorme curiosidade de ver como Lisboa é hoje em dia. Mas o que me deixou mais triste nesta visita foi o tempo, o tempo que me amaldiçoou e que não me deixou ver a luz e o céu limpo da minha querida Lisboa.
            Foi nostálgico ver as mesmas ruas: alguns dos sítios que frequentava permanecem no mesmo sítio, com a mesma decoração, com o mesmo objetivo. Um desses sítios é o café “A Brasileira” que ironicamente tem, à sua porta, uma estátua, feita por Lagoa Henriques, que me retrata. Esta estátua representa-me na esplanada do café, sentado à mesa com a perna cruzada e uma cadeira vazia ao lado como convite a quem passeia pela rua.
            O último espaço que visitámos, era um dos que sentia mais necessidade. Antigamente passava horas a fio no Terreiro do Paço, à beira do rio Tejo a meditar e a inspirar-me para a vida e para os meus poemas.

Textos apresentados pelo Grupo
(Daniela, Sara, Catarina e Mariana Araújo)

Rua 1º de Dezembro  -  Restaurante Leão d’Ouro
            O “Restaurante Leão d’Ouro” inaugurado no ano de 1872 , era um dos locais prediletos de Fernando Pessoa e dos seus amigos que adoravam uma das características deste restaurante : a ementa tradicional portuguesa. O restaurante tem um ambiente que nos transporta para um passado recente, com azulejos e o mobiliário antigo que servem como decoração.
            Fernando Pessoa demonstrava o seu gosto pela gastronomia em muitas das suas obras. Uma delas é o poema “Dobrada à Moda do Porto” do seu heterónimo Álvaro de Campos.
  
“Dobrada à Moda do Porto”
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Estação do Rossio
            A Estação do Rossio reúne todos os elementos em estilo Neo- Manuelino (esferas armilares e motivos marítimos), tem omnipresente o mito Sebastianista e a Ideia do V Império.
            Provavelmente, passa despercebido aos olhos de qualquer pessoa, mas as portas da Estação estão desenhadas em forma de ferradura, aludindo ao cavalo branco de D. Sebastião. Desta forma, existe uma alusão à lenda de D. Sebastião, que diz que numa manhã de nevoeiro ele regressará, reinando sobre todos nós e devolvendo à Pátria a grandeza do passado.
            Entre todas as estátuas dos poetas encontra-se uma estátua de D. Sebastião cercado com um escudo de 7 castelos. Esta é mais uma referência ao V Império. Fernando Pessoa acreditava que o V Império seria um império espiritual de poetas.
            Foi também aqui, na estação do Rossio, que muitas vezes Fernando Pessoa aguardava a chegada do seu amigo Mário de Sá Carneiro. O poema “O Ter Deveres” de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa) é um dos poemas que refere as despedidas de Pessoa a Mário de Sá Carneiro na estação do Rossio.

“O Ter Deveres”
O ter deveres, que prolixa coisa!
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior — despedida
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris ...

Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...

Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...

Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.

Daniela, 12º E