Um blogue da professora Risoleta C. P. Pedro para e com os trabalhos dos seus alunos- Escola Secundária Artística António Arroio
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
domingo, 2 de dezembro de 2012
Relatório da Visita de Estudo à Baixa Lisboeta de Fernando Pessoa
Visão de José
Saramago
Foram dar ao Largo Camões entre
as oito e as oito e meia, de mochilas às costas e empenhando nas mãos o bloco e
o lápis ou caneta, conforme o gosto do freguês. Começaram avidamente a ler as
perguntas que faziam parte de um questionário importante sobre a visita de
estudo, do qual algumas das respostas eram dadas ao longo da mesma. Mal sabiam
eles que essa visita iria durar mais do que esperado, resultando na debandada
de alguns professores e alunos, mas isso veremos mais tarde, deixemo-los
aproveitar o passeio enquanto podem.
Alguns entraram na Brasileira, cafetaria originalmente situada no Rossio, a fim de descobrirem quantas pinturas lá havia, onze seriam elas, outros
seguiram-nos quando se aperceberam que também lhes interessava obter essa
informação. Os professores fizeram uma pequena introdução à Brasileira e ao
Largo do Chiado, nome proveniente do facto de haver tanta pancadaria nos salões
que até os edifícios chiavam, provavelmente também por culpa do Almada
Negreiros, amante de ginástica, que entrava pela Brasileira aos saltos e aos
pinotes, contando curiosidades, histórias de um fontanário, agora inexistente
ali mas existente no Largo de D. Estefânia, que era um dos principais pontos de
chegada do aqueduto das Águas Livres; história de bicas cuja própria palavra
significa beba isto com açúcar devido à amargura que detinha a dita bebida.
Seguiram para o alto de Sta.
Catarina, lugar do Miradouro do Mostrengo Adamastor, de onde as pessoas ficam a
ver navios. Passaram pela Rua da Horta Seca, aqui o professor António Farinha,
explicou aos seus alunos que ali se situava o Palácio do Manteigueiro ou
Palácio da Horta Seca, atual Ministério da Economia e do Emprego. Continuaram
a sua jornada por algumas ruelas até chegarem ao Miradouro, destino pretendido.
Maria José, Maria Varela, Flávia Miguel, Ana Rita Pires e Inês Gomes
apresentaram alguns textos sobre o hediondo Mostrengo referido na obra de
Fernando Pessoa, Mensagem e n’Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões,
não o referi na minha obra porque para monstros bastam os homens. Continuaram a
caminhada, passaram pelo Largo do Picadeiro, parando no Teatro S. Carlos para
admirar uma estátua de ferro em honra ao tal Fernando Pessoa, que vai ser
referido ao longo desta jornada até dizer chega, que consistia num homem com
cabeça de livro, coisa estranha, banal nestes dias. Inês Gomes, Ana Rita e
Sofia Azevedo leram o poema “Qualquer música”, devido ao facto do pai de Pessoa
ser um crítico de música, Andreia Ratão e Inês Barreto leram o poema “Ó Sino
da Minha Aldeia”, a propósito de ali se encontrar a casa onde Fernando Pessoa
nasceu e viveu grande parte da sua infância.
Chegaram ao Largo das Belas Artes,
onde se localizava a Biblioteca Pública, muito frequentada por Pessoa que ali
ia para devorar livros, e o Convento de S. Francisco, atual Faculdade de Belas
Artes, futuro destino de alguns Arroianos. Ali ao lado, na Calçada nova de S. Francisco,
tinha havido um grande incêndio que destruiu todas as padarias que ali havia.
Foi prometido aos padeiros que haveriam de ser construídas padarias para estes
voltarem a trabalhar, mas tal promessa nunca foi cumprida. Isto lembra-me da
promessa feita pelo Rei aos frades no meu romance Memorial do Convento.
Neste caso, seriam os arquitetos a não ter filhos se construíssem as padarias,
mas teriam sítio para comprar pão.
Voltaram à Rua Garrett para
visitar a Basílica dos Mártires onde Pessoa fora batizado. Alguns dos
pequenos, que na época de Baltasar e Blimunda já seriam grandes, entraram na
dita basílica para observar o presépio de Machado de Castro que lá estava e o
magnífico teto verde e rosa de Pedro Alexandrino. Sem perder tempo, caminharam
até ao Elevador de Santa Justa para poderem ver as vistas, deparando-se com o
grupo de loiros muito brancos que ocupavam todo o espaço do Elevador, voltaram
para trás, vendo já caídos o Carmo e a Trindade.
A estação do Rossio era a próxima
paragem, do estilo Manuelino e portas em forma de ferradura, sempre foi a estação
de comboios principal de Lisboa. Desceram as escadas rolantes até à entrada
principal onde duas moças da turma das sedas e das lãs leram um texto sobre a
estação. Saíram para o exterior e duas protegidas de Elói, Maria José e Maria
Varela, era o nome delas, leram o poema “D. Sebastião, Rei de Portugal” da Mensagem.
No largo de João da Câmara onde Ofélia era secretária de uma empresa, um trio
de alunos de têxteis leram cartas de amor de Fernando Pessoa a Ofélia. Retornaram
ao Largo do Rossio, lugar onde se situava originalmente a Brasileira, desta vez
para merendar, visto que já era hora de recompensar o corpo pelo esforço que
fez e fará. Acabado o banquete, escutaram, sentados ao lado da estátua, poemas
de Pessoa e excertos do meu romance, que tratavam de algumas viagens de
Baltasar por Lisboa, lidos por quatro alunos de têxteis muito agasalhados,
devido às condições do tempo, que não eram de todo favoráveis.
Passaram por várias ruas
lisboetas, como a Rua da Assunção, a Rua Augusta, a Rua dos Sapateiros, a Rua
do Ouro, a Rua da Vitória, a Rua S. Julião, lendo sempre poemas e excertos das
três obras que estão a estudar. Como todos os caminhos vão dar a Roma, eles
foram dar ao Terreiro do Paço, onde seis dos aspirantes a ourives, Francisco Pastor,
Tatiana Marques, Ana Potier, Inês Duarte e Diogo Madeira, leram excertos da
minha obra e da do Fernando Pessoa, relacionados com aquele espaço e com
espaços que supostamente iriam visitar, como a Casa dos Bicos, o restaurante
Martinho da Arcada e o Campo das Cebolas, mas que não tiveram tempo para tal,
como tinha previsto no início deste relatório.
Finalizadas todas as leituras,
explicações e curiosidades, foram todos para seu lado, saindo de lá, talvez, um
pouco mais cultos do que eram.
Inês Pires Duarte 12ºD
nº14
Relatório da visita
I Parte
Foi no dia 13 de Novembro de 2012 que, a turma do
12º A da Escola Secundária Artística António Arroio, percorreu a Baixa de
Lisboa no contexto da disciplina de Português de maneira a didaticamente
estudarmos a vida e a passagem de F. Pessoa por ruas que muitos de nós já
conhecíamos mas, que nunca tínhamos olhado como o palco da sua vida.
É certo que este roteiro estava diretamente ligado
a Pessoa, mas não foi por isso menos abrangente, pois para além da influência
deste, também outras personalidades estiveram presentes no decorrer da visita, personalidades
como Luís de Camões (no contexto d'Os Lusíadas - que estudamos agora em paralelo
com a Mensagem de F. P.) e José Saramago (no contexto do Memorial do Convento –
a trabalhar no segundo período).
A visita foi feita na companhia da professora Risoleta
Pedro de Português, e da professora Ana Azevedo de História da Cultura e das
Artes, e, embora estivesse relacionada com a disciplina de Português, penso que
foi uma mais valia a presença da professora Ana Azevedo pois, para alem da
importância de toda a parte literária da visita que a professora Risoleta nos
proporcionou, também foi muito interessante a inclusão do contexto histórico
dos locais pela professora de H.C.A..
Esta visita também ganhou muito pelo facto de
ter-nos sido atribuído (aos alunos) o papel de apresentarmos cada espaço, não
só por que nos levou a estudar o espaço que nos calhou mais profunda e
pessoalmente, como também nos aproximava mais da visita pelo facto de vermos
colegas nossos a falarem, também porque, sendo todos tão diferentes, cada
espaço foi abordado de várias maneiras pessoais tornando a visita mais elaborada
e deversificada.
Gostei muito de ver o tipo de “caminho” que cada um
escolheu para explorar o seu espaço, foi talvez o ponto mais interessante da
visita no meu ponto de vista.
O roteiro passou por sítios como: A Brasileira, o
Adamastor, o Largo S. Carlos, a Basílica dos Mártires, o Largo Bordalo
Pinheiro, o Largo do Carmo, o Restaurante Leão pobre/leão de Ouro, a Estação do
Rossio, o Largo D. João da Câmara, o Rossio, a Praça da Figueira, o Licorista,
a Rua Augusta, a Rua dos Douradores, a casa de Mário de Sá Carneiro, a Rua dos
Fanqueiros, a rua do Ouro, o Terreiro do Paço, o Cais das Colunas e por fim a
Casa dos Bicos.
Cada um destes locais teve direito à sua apresentação
e a recitações dos mais variados textos, sempre em sintonia com o tema da
visita. E perto do final, mais precisamente no Cais das Colunas tivemos mesmo a
oportunidade de largar no rio vários barquinhos de papel feitos por duas
colegas nossas que tinham esse espaço para apresentar.
O meu grupo era constituído por mim e pela Ana
António e calhou-nos a Estação do Rossio e a Rua dos Douradores nos quais
apresentámos, respetivamente, os seguintes excertos:
Carta de Fernando Pessoa a Mário
de Sá Carneiro.
Escolhemos
este excerto pelo facto de Fernando Pessoa se deslocar à Estação do Rossio para
vir esperar o seu grande amigo quando este regressava de Paris.
“Lisboa, 14 de Março de
1916
Meu querido Sá-Carneiro:
Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental -
uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se depreende, eu nada tenho a
dizer-lhe. Só isto - que estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O
absurdo da frase falará por mim.
Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro.
Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do
rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá, e é esta a razão intima de todo o meu
sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem
há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha
mágoa é mais antiga.
(…)No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do
meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde
pendem; estão enrolados muito alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na
minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu
estado de alma neste momento. Como à veladora do «Marinheiro» ardem-me os
olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por
interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a
brochura a descoser-se.
(…)Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta
frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas
dão uma grande vontade de chorar. Pode ser que se não deitar hoje esta carta no
correio amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases
e esgares dela no «Livro do Desassossego». Mas isso nada roubará à sinceridade
com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
As últimas notícias são estas. Há também o estado
de guerra com a Alemanha, mas já antes disso a dor fazia sofrer. Do outro lado
da Vida, isto deve ser a legenda duma caricatura casual.
Isto não é bem a loucura, mas a loucura deve dar um
abandono ao com que se sofre, um gozo astucioso dos solavancos da alma, não
muito diferentes destes.
De que cor será sentir?
Milhares de abraços do seu, sempre muito seu
Fernando Pessoa
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Fernando
Pessoa.
Neste caso escolhemos este excerto pela
notória presença da rua dos Douradores no texto.
“Hoje, em um dos devaneios sem propósito nem
dignidade que constituem grande parte da substância espiritual da minha vida,
imaginei-me liberto para sempre da Rua dos Douradores, do patrão Vasques, do
guarda-livros Moreira, dos empregados todos, do moço, do garoto e do gato.
Senti em sonho a minha libertação, como se mares do Sul me houvessem oferecido
ilhas maravilhosas por descobrir. Seria então o repouso, a arte conseguida, o
cumprimento intelectual do meu ser.
Mas de repente, e no próprio imaginar, que fazia
num café no feriado modesto do meio-dia, uma impressão de desagrado me assaltou
o sonho: senti que teria pena. Sim, digo-o como se o dissesse
circunstanciadamente: teria pena. O patrão Vasques, o guarda-livros Moreira, o
caixa Borges, os bons rapazes todos, o garoto alegre que leva as cartas ao
correio, o moço de todos os fretes, o gato meigo — tudo isso se tornou parte da
minha vida; não poderia deixar tudo isso sem chorar, sem compreender que, por
mau que me parecesse, era parte de mim que ficava com eles todos, que o
separar-me deles era uma metade e semelhança da morte.
Aliás, se amanhã me apartasse deles todos, e
despisse este trajo da Rua dos Douradores, a que outra coisa me chegaria —
porque a outra me haveria de chegar?, de que outro trajo me vestiria — porque
de outro me haveria de vestir? (…)
E recolho-me, como ao lar que os outros têm, à casa
alheia, escritório amplo, da Rua dos Douradores. Achego-me à minha secretária
como a um baluarte contra a vida. Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos
meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo,
pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de
mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar — ou talvez,
também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o
dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande
indiferença das estrelas.”
“Bem sei que há ilhas ao Sul e grandes paixões
cosmopolitas, e se eu tivesse o mundo na mão trocava-o, estou certo, por um bilhete
para a Rua dos Douradores
II Parte
Bernardo Soares e o Roteiro pela Baixa
Passaram
destacando-se, a princípio, apenas pela sua quantidade, era sem dúvida um
qualquer projeto educativo, não me demorei mais do que o banal a olhar para
aquele grupo de jovens. Rodei sobre mim mesmo e encostei-me à parede mais perto
de mim à espera que passassem depressa e me deixassem de novo com os meus
delírios sãos. Na verdade já era praticamente de noite, e a rua dos Douradores
estava vazia, à exceção de mim e daqueles todos. Uma pequena grande multidão
entre mim e a solidão que só os Douradores me podiam proporcionar neste
momento. Encostado, fechei os olhos ignorando-os propositadamente.
Parecia que
iam ficar, e ficaram não só por ficar, mas ficaram por mim, não diretamente por
mim, mas inconscientemente pelo que fui e pelo que fiz, pelo que fiz do sítio
onde estou. Falaram, leram e encheram-me os pensamentos de ternura e afeto.
Eles estavam ali pelo mesmo que eu, não por si, mas pela Rua dos Douradores,
pelo que escrevi sobre ela e pela sua significativa importância, que ultrapassa
a simples importância de uma rua qualquer.
Mafalda. 12º A
Relatório Visita de Estudo
A visita de estudo realizada à Baixa “Pessoana, Camoniana e
Saramaguense”, teve lugar no dia 9 de Novembro de 2012.
O ponto de encontro foi o Largo do Chiado, em frente ao café
Brasileira, que continua a ser ponto de muitos encontros.
Descobri que o termo bica significa “beba isto com açúcar”,
o que me aborreceu, tendo em conta que não bebo aquilo com açúcar. O café é
sozinho, e sozinho devia beber-se. Ou talvez não, talvez a sugestão mais
simpática fosse “beba isto como apetecer”. Não houve sequer tempo para café,
apenas para olhar de repente para os 11 quadros expostos nas paredes da
Brasileira.
Saímos e encontrámos o Mestre Lagoa Henriques sentado à chuva, com Pessoa no pensamento.
Sugeriu uma viagem até ao Miradouro de Santa Catarina, que era lá que gostaria
de estar, mas que mover não se podia.
No miradouro encontrámo-nos com Pessoa e Camões, através das
leituras relativas, ao também presente Adamastor ou Mostrengo, que a chuva
parecia ter amainado.
De seguida, dirigimo-nos às Belas Artes, que foi outrora a
Biblioteca Nacional, também frequentada por Pessoa. Passámos pelo Largo S.
Carlos, pela Igreja dos Mártires, pelo Largo Camões, pelo Largo do Carmo, pela
Estação do Rossio, até chegarmos ao Rossio propriamente dito, onde foi
divulgada alguma correspondência trocada entre Pessoa e Ofélia, creio que
Pessoa tenha até corado, sentido algum desconforto, mas certezas não as tenho.
Foi também no Rossio onde lemos o nosso excerto do Memorial do Convento , e onde fomos visitados por Saramago. Apareceu
zumbindo e pousou no livro. Não disse nada nem antes, nem durante a leitura.
Apenas no fim é que se pronunciou, Ainda chove, esta chuva queixosa, e
queixando-se vai caindo o resto do dia.
Joana Nogueira nº13 12ºE
Relatório da visita de estudo
“Lisboa
Pessoana”
Hoje foi um dia diferente
apesar de o frio ter continuado a abraçar-nos, como nos dias anteriores.
Abandonei a rotina por um dia, e em vez de seguir rumo à escola caminhei em
direção ao passado. O chão que pisava era o mesmo que Fernando Pessoa pisara e
isso fez-me recuar no tempo, imaginar como as ruas eram habitadas, se eram
muito movimentadas, as vestimentas das pessoas, os prédios, as rotinas... Esta
tentativa de imaginar como seria a Lisboa Pessoana foi ajudada pelos
professores e alunos presentes que, juntos, fizeram lembrar os espaços e
monumentos mais relevantes desse tempo, através de textos escritos por Pessoa.
(...)
Visita
de estudo na pele de Fernando Pessoa
Este dia foi palco de emoções
contrastantes. Senti-me muito feliz por ter a oportunidade de poder reviver os
espaços que frequentava, as ruas pelas quais passeava, e tinha, sobretudo, uma
enorme curiosidade de ver como Lisboa é hoje em dia. Mas o que me deixou mais
triste nesta visita foi o tempo, o tempo que me amaldiçoou e que não me deixou
ver a luz e o céu limpo da minha querida Lisboa.
Foi nostálgico ver as mesmas ruas:
alguns dos sítios que frequentava permanecem no mesmo sítio, com a mesma
decoração, com o mesmo objetivo. Um desses sítios é o café “A Brasileira” que
ironicamente tem, à sua porta, uma estátua, feita por Lagoa Henriques, que me
retrata. Esta estátua representa-me na esplanada do café, sentado à mesa com a
perna cruzada e uma cadeira vazia ao lado como convite a quem passeia pela rua.
O último espaço que visitámos, era um
dos que sentia mais necessidade. Antigamente passava horas a fio no Terreiro do
Paço, à beira do rio Tejo a meditar e a inspirar-me para a vida e para os meus
poemas.
Textos
apresentados pelo Grupo
(Daniela,
Sara, Catarina e Mariana Araújo)
Rua 1º de
Dezembro - Restaurante Leão d’Ouro
O “Restaurante Leão d’Ouro”
inaugurado no ano de 1872 , era um dos locais prediletos de Fernando Pessoa e
dos seus amigos que adoravam uma das características deste restaurante : a
ementa tradicional portuguesa. O restaurante tem um ambiente que nos transporta
para um passado recente, com azulejos e o mobiliário antigo que servem como
decoração.
Fernando Pessoa demonstrava o seu
gosto pela gastronomia em muitas das suas obras. Uma delas é o poema “Dobrada à
Moda do Porto” do seu heterónimo Álvaro de Campos.
“Dobrada à Moda do Porto”
Um
dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Estação
do Rossio
A Estação do Rossio reúne todos os
elementos em estilo Neo- Manuelino (esferas armilares e motivos marítimos), tem
omnipresente o mito Sebastianista e a Ideia do V Império.
Provavelmente, passa despercebido
aos olhos de qualquer pessoa, mas as portas da Estação estão desenhadas em
forma de ferradura, aludindo ao cavalo branco de D. Sebastião. Desta forma,
existe uma alusão à lenda de D. Sebastião, que diz que numa manhã de nevoeiro
ele regressará, reinando sobre todos nós e devolvendo à Pátria a grandeza do passado.
Entre todas as estátuas dos poetas
encontra-se uma estátua de D. Sebastião cercado com um escudo de 7 castelos.
Esta é mais uma referência ao V Império. Fernando Pessoa acreditava que o V
Império seria um império espiritual de poetas.
Foi também aqui, na estação do
Rossio, que muitas vezes Fernando Pessoa aguardava a chegada do seu amigo Mário
de Sá Carneiro. O poema “O Ter Deveres” de Álvaro de Campos (heterónimo de
Fernando Pessoa) é um dos poemas que refere as despedidas de Pessoa a Mário de
Sá Carneiro na estação do Rossio.
“O Ter Deveres”
O
ter deveres, que prolixa coisa!
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior — despedida
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris ...
Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...
Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...
Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior — despedida
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris ...
Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...
Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...
Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
Daniela, 12º E
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