segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Trabalho espontâneo

                                          

Fernando Azevedo António Domingues António Pedro Marcelino Vespeira João Moniz Pereira

Cadavre exquis, 1948


O que surgiu de uma improvisação, de um exercício de Cadáver Esquisito,  com alguns elementos da turma: 
 

2º DRATAMENTO

A noite espelhada do ser que passa,
A matilha esquisita
Na cama revirada deitou
Na casa delinquente.
Indo coxa a cadela,
Mas quer para mim, este desassossego.
O rato gordo fugiu
Ao homem depravado
Na casa da lúdica sinceridade
Morre
Numa tensão palpável.


3º DRATAMENTO

Da vida vive inerte
No palco luminoso.
A mesa forte cedeu
Na escura rua com pedras da calçada
De uma vivência primitiva foge
Da novela rica.
A pura suja levava
Á postura curvilínea.
A tourada louca canta
Aos pobres que divagam.


4º DRATAMENTO

Um de se vai revelar
No toque quebrado.
Fugiu o ladrão maneta
Da vida luzidia
Grita, foge
E por fim, morre - 





Feito por: Ana Battaglia
                  Tomás Neves
                  Ana Rita António
                  David Cardoso
                  e José Rafael 

Dratamento surge das nossas iniciais que resultam em DRATA (David\Rafael\Ana\Tomas\Ana), com uma união talvez a documento.

Escrita da Oralidade



                                      Andréa Martins da Silva


Gabriel Filipe Duarte Gonçalves, 24.01.2013
Leitura (texto original)

As varandas e os poetas
 Parecem ter algo em comum.
 Ambas vivem Lisboa à proa,
 Ambas são o que são em jejum

Dissertação
 Decidi dissertar com uma análise do texto lido no espaço da leitura. “As varandas e os poetas” é uma quadra que remete para um reflexão feita à cidade de Lisboa sobre os seus poetas, e algumas semelhanças que encontro em outros elementos presentes no espaço, que parecem consciencializar o sentido da procura da vida para fora do leitor, ou através das grandes obras literárias, ou das comuns gentes que frequentam somente as ruas, viradas para o rio.
 Os dois primeiros versos criam a intuição que vai ser justificada adiante; “Ambas vivem Lisboa à proa,” significa que tanto as varandas, como os poetas veem Lisboa mais à frente, no topo da “fragata” – sobre o mar profundo (isto porque certas varandas permitem uma visão de miradouro do rio Tejo, e os poetas, muitas vezes se inspiram nele e nos seus antecedentes para escreverem poesia)
 Já para a último verso, anteponho uma pesquisa necessária que achei algures sobre a prática do jejum, importante para a compreensão do poema.
 O jejum é um período de tempo de abstinência alimentar que pode estar sob influência de motivos religiosos ou medicinais. Neste caso do poema encontramos simplesmente o motivo metafórico da expressão, pois os poetas praticam-no como sintoma insaciável da fome que têm pelo conhecimento do mundo e produzem então as suas obras nesse estado não-superável, assim como as varandas sempre se veem dispostas a um novo olhar, para lá do real. Como um espaço de abstinência e reflexão dos outros lugares absorvidos pela cidade, também ela procura produzir visões transcendentes ao seu morador, como um miradouro – sobreposto a tudo e a todos da cidade, portanto, abstinente da física. Referência esta que também podemos encontrar nos “terraços” de F.Pessoa, que ausentes do mundo físico, permitem ver o ali ali.
 Por que razão escolho fazer esta comparação, que ao iniciador parece não fazer sentido algum? Tanto as varandas como os poetas, constituem lugares passíveis do pensamento.

Improvisação
 As varandas viradas para o interior
 O processo remete obrigatória e extraordinariamente para o sentido inverso das varandas exteriores, as que estão viradas para o rio. Se as primeiras procuram um olhar novo para... as varandas viradas para o interior, não são mais que sítios exploradores, também passíveis ao pensamento e que remetem para o nosso eu e o sentido da nossa existência. A primeira, repito, abstém-se do interior para visitar lugares além – os da imaginação.

Leitura, Dissertação, Improvisação



 
O texto que escrevi relaciona-se com o estudo tão intensivo de um escritor que quase matamos toda a sua escrita. Com a ideia de arranjar motivos e razões, histórias e fantasias por trás de toda a poesia de Pessoa. O inventar do ser que ele era, louco ou não, bêbedo ou não, esquizofrénico ou não. Relaciona-se com a necessidade que temos de justificar a genialidade de um artista e o enorme obstáculo que é acreditarmos que ‘’sim, só porque sim’’ sem um motivo. O meu texto é por isso como que uma manifestação de desagrado do poeta por todos os pontos que acrescentaram, não só à sua vida como à sua obra. É uma mistura do meu desagrado com o de Pessoa. Eu própria não gosto quando me pedem para explicar o porquê de algo que escrevo ou desenho, por vezes não há um porquê, há o nosso inconsciente a trabalhar, a comandar a nossa mão. Por isso, e se Fernando Pessoa tiver sido um génio, sem dúvida, mas um génio inconsciente? Sem motivos, sem razões. E se, por um segundo, parássemos de fazer perguntas, de procurar respostas e apenas apreciássemos as linhas e não o que está entre ou por trás delas? A arte pela arte. A escrita pela escrita. A poesia pela poesia.


Porque me fazem e desfazem.
Um diz que diz de fases que foram. Consequências e sequências de cadências irregularmente organizadas. Não cronológicas. Não lógicas. Não nada. Que nunca foram. Inventaram-me camadas do inconsciente fluído em letras e palavras. Esmiuçaram e arrancaram até um caroço. Acusaram de texturas, fissuras e loucuras. Nunca foi. Nunca fui. Nada nunca do diz que diz. Fui um romper de regularidade e facilidades assumidas. Moldaram-me erradamente como um esmagador equívoco. Escrevia flores sem cheiro e corredores sem portas. Plano devastador de crenças e respostas. Viram o que queriam ver. Sentiram e souberam por mim o que nunca realmente houve. Seres carentes por significados e simbologias. Incapazes e incompletos não veem nunca nada pelo que é. Veem mais porque nunca nada chega. E perdidos na loucura de que a mim me acusaram, loucos, enlouqueceram. Medíocres almas aspirantes à inspiração da genialidade. Trouxeram ao mundo um fantasma. Trouxeram a não aceitação da arte pela arte. Fizeram de mim uma marioneta de ilusões. Pegaram no vazio do meu baú e encheram-no de suposições. Preencheram o meu inconsciente solto de correntes e algemas. Corromperam-me as linhas e as rimas de ferrugem e farrapos. E por força, que nada mais têm, anularam a imaginação da genialidade do meu inconsciente. Condenaram os meus vazios a espaços cheios e sufocantes. Construíram castelos na areia e num sopro eu tudo apago. Um génio louco consumido no fundo de uma garrafa vazia. Tombei, tombando e quebrei-me em cacos de nada. Condenaram-me eternamente a uma existência inexistente. Todo o meu inconsciente dissertado em explicações de porquês. Sufocaram-me em mim e agora estou morto, ainda mais do que antes.

Aquilo de que nunca me acusaram

O génio que dizem que fui, é isso mesmo, o que dizem. Nunca o fui, não. Acusaram-me de existências, motivos e razões que nunca tive. De ser, de ter, de sofrer e no fim morri, não uma, mas duas vezes. E morro ainda todos os dias porque as suposições não têm fim. Humanidade. Mentes pensantes perdidas com noções erradas do que é necessário. Eu não sou nada do que me acusam. Eu sou rimas pelas rimas. Eu sou poeta pela poesia. Eu bebo pela bebida e sou tão louco quanto todos o somos. Quanto a sociedade nos deixa ser ou um pouco mais porque sou famoso. Eu trabalho porque é minha obrigação e vivo porque um dia meus pais tomaram essa decisão. Eu rimo sem querer e escrevo sem saber. Faço porque faço e não perguntem porquê. Acusaram-me de tudo, menos de ser livre. Foi tudo quanto sempre quis ser. Livre de preconceitos, de críticos e de invejosos. Livre para escrever sem que um dia inventassem razões. Criaturas que não sabem apreciar o bom pelo bom. Eu sou o último gole da garrafa. O último cigarro do pacote. O último vício sustentável. Eu sou tudo aquilo de que nunca me acusaram.

Margarida B. Gomes da Silva
Nº15 12ºA

domingo, 20 de janeiro de 2013

Seguir as pegadas de outros



                                           Malhoa


Seguir as pegadas de outros

Uma visita que se traduziu numa viagem pela cidade do nosso instituto escolar, uma viagem que poderia ser simplesmente o trajeto de um cidadão lisboeta, feita tal como uma visita a uma cidade estrangeira.
Com o intuito do refazer as pegadas de Fernando Pessoa, de Camões, de Saramago e outros, assim demos início à ilustre caminhada da tarde. Com o café da Brazileira no largo do Chiado como primeira paragem, o autocarro, provindo grande parte do metro, parou e escutou a singela apresentação de Tomás Neves sobre este local fundado a 19 de Novembro de 1905 e de encontro entre ilustres indivíduos como Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros, Santa Rita, Fernando Pessoa e outros que ali iam beber o café brasileiro.
Subindo pelo largo Camões até ao Miradouro de Santa Catarina até ver as naus de ferro sobre o rio lusitano, e o seu tormento, o Adamastor ou, como outros o nomeiam, o Mostrengo.
E Retrocedendo pelo mesmo caminho, descemos até ao Teatro S. Carlos, pois na casa em frente terá nascido Fernando Pessoa, que foi batizado a 13 de Junho de 1888 basílica na qual se via do largo a torre sineira, torre da Basílica dos Mártires e dos sinos da aldeia do escritor.
E de um largo, dirigimo-nos a outro, o largo Bordalo Pinheiro, onde antes existia o Casino da cidade no nº31, 1º andar, e onde se deram as Conferências do Casino de quais fazia parte Fernando Pessoa.
E deste largo dirigimo-nos novamente a outro, desta vez o largo do Carmo, conhecido pelas famosas ruínas da respetiva Igreja. Foi lá no nº18 1º andar, que viveu Pessoa, 4 anos após sair da universidade, dos 20 aos 24. Foi neste apartamento onde a ideia de escrever o livro Mensagem surgiu, inspirando-se nas ruínas em frente.
Descendo até à pequena e esquecida rua 1 de Dezembro, rua do restaurante Pobre Leão Douro, ponto de encontro entre Fernando Pessoa e outros ilustres, diante de um quadro de Columbano que os representa. Frente ao restaurante estava um assador de castanhas e por trás, a estação do Rossio, estação onde o escritor ia esperar Mário de Sá Carneiro e onde provavelmente admiravam os painéis de azulejos de Lima Freitas relacionado com o V Império.
Depois de atravessar a rua parámos no largo D. João da Câmara, onde Pessoa ia ver a varanda de Ofélia, sua amada. Mais à frente a praça D. Pedro IV, onde existiam o café Martinho, Café Portugal, Café Gelo, Café do Bocage e o restaurante Irmãos Unidos. No Martinho realizaram-se várias reuniões do grupo Orpheu. Pessoa frequentava estes cafés com o ilustre poeta Carlos Queiroz, familiar da sua adorada.

A Praça da Figueira foi a próxima paragem, local de vista privilegiada para o castelo, local onde antes existia o Hospital de Todos os Santos (referido no Memorial do Convento) destruído no terramoto de 1 de novembro de 1755. A praça surgiu como tal e mercado após o terramoto.
Depois dirigimo-nos à “Licorista” onde (infelizmente não bebemos) Pessoa ia beber aguardente e absinto, as suas bebidas prediletas. Seguindo para a Rua Augusta a caminho da Praça do Comércio, foram discutidos os escritórios onde Pessoa trabalhou como tradutor e guarda livros. Depois, na praça, foi nomeado o café “Martinho da Arcada” (para distinguir do Martinho do Rossio) o primeiro café de Lisboa, vendia gelados e bebidas geladas e também aí se vendiam bilhetes para as tipoias de Sintra. Era onde Pessoa jantava sempre e onde este e Saramago têm uma mesa dedicada a cada um. Foi discutida a importância da praça como local dedicado ao seu nome, sendo uma das maiores praças da Europa e um monumento da reconstrução lisboeta após o terramoto, foi onde antes estava o paço real e por trás o porto da ribeira das naus.
Descendo depois até ao cais das colunas, “por mera coincidência”, daí partia uma larga frota rumo ao Destino.
No final da comprida viagem, já com o peito ofegante, os pés com calos, as pernas a tremer e prestes a desfalecer, chegámos à casa dos Diamantes, conhecida como a Casa dos Bicos, sendo hoje a fundação Saramago, fundada este ano. Uma habitação construída em 1523, a mando de D. Brás de Albuquerque, filho natural legitimado do segundo governador da Índia portuguesa, e assim foi o penúltimo ponto de paragem da visita.
Penúltimo! Pois o último foi o metro do Terreiro do Paço.
Diogo Dias
Nº6 12ºA


A Minha cidade desconhecida

Mas que cidade maravilhosa e apaixonante, tudo aquilo que sempre imaginei. Uma cidade feita para o homem, mas onde ainda há lugar para o nosso ilustre Deus, tudo aquilo pelo qual lutei, tudo aquilo pelo qual a minha geração se esforçou.
Que terra maravilhosa de falam eles, terra descoberta no meu tempo, terra de onde vêm estes deliciosos alimentos e bebidas. Depois, subindo tais ruas estranhas fomos até um local de onde eu via as imponentes naus, e onde está agora um monstro da minha grande obra. Viajámos pela desconhecida cidade onde nasci e vivi falando de tais escritores que, pelo que parece, são tão conhecidos quanto eu (algo difícil de acreditar), vimos os seus locais de visita, onde comeram, viveram... pois os meus foram destruídos aparentemente por um horrível terramoto. Descemos até ao antigo Terreiro do Paço, pois agora já nem rei existe, como poderá um pais assim sustentar-se! E descemos até ao chamado cais das colunas, perto da antiga ribeira das naus, local de onde a minha partiu para a Índia. E tal como a minha também de lá partiu uma larga frota rumo ao Oriente.
Terminamos na casa do filho do vice-rei da Índia, rapaz detestável, mas com bom gosto em termos de arte. É esta a minha cidade desconhecida, é esta a cidade de Luiz Vaz de Camões.