quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Índios e colonos (ainda)

Pensamento de um colono enquanto ouvinte do Sermão do Santo António aos peixes.

Ou não fosse Cristo ter criado raças diferentes entre pessoas: humanos e homens, e não haveria ninguém que nos trabalhos duros e sujos lhes metesse as mãos e os pés. Ou não fosse cristo ter criado raças diferentes entre pessoas: humanos e homens, e nós, gente de riqueza, poder, conhecedora do universo – jamais poderíamos estragar e sujar as nossas mãos e os pés, e com isso todas as leis e regras que nos distinguem desses índios que muito pouco manifestam o trabalho que lhes damos. Manifestariam eles se na terra não reconhecessem a função que nela desempenham se não o de apoiar os grandes homens nos seus duros e pesados trabalhos.
 Oiço Padre António Vieira a pregar aqui, em São Luís do Maranhão, não entendendo qual o seu tamanho manifesto contra uma corrupção – que tanto diz ele existir na terra. Talvez por enquanto pregador e seguidor de cristo, sinta a necessidade e vontade de doutrinar o mundo para que nele caia o corpo de cristo? Se o sal salgasse e se a terra se deixasse salgar, porque precisariamos então nós da força de cristo?
 Ainda, dispondo de uma doutrina que vira mundo contra mundo, Padre António Vieira não falta em dizer que cristo não solucionara todos os pontos corruptos na terra. “E a terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer?”, diz Vieira que cristo não o resolvera, mas que Santo António, português Santo, toma solução nunca antes tomada.
 Se da terra não existisse sal que salgasse, que seria de cristo no meio de tanta malícia? Sou um homem entre humanos que presta agora ouvido a um pregador da terra, mas que de indignação e compreensão não entendo porque tanto deles vem à ideia que na terra existe tanta corrupção que nós senhores do mundo não pudéssemos resolver. Que não percam tempo com histórias e cantigas.

Gabriel Filipe Duarte Gonçalves n 10 11E

Pensamento de um índio enquanto ouvinte do Sermão de Santo António aos peixes.

 Sou um pele-vermelha. Por entre pregadores, embarco no sermão de Santo António, aqui sobre a terra no lugar de São Luís de Maranhão.
 Pregando como que de cristo se tratasse, sonhor deles, prega o seu dever enquanto pregador – Padre Vieira. E por dever, digo, que quanto pregador de referência impõe sal – como diz – aos esquecidos pregadores da doutrina.
 Pois, porque da terra sal não faltará para impedir tal corrupçção. Basta que os pregadores preguem a sua doutrina e que os ouvintes os queiram ouvir fazendo o que eles dizem e não o que eles fazem. Mas para que na terra, nossa irmã, da vida que nós dá, seja visto o efeito do sal sobre a corrupção como tem o sal sobre o tempero dos nossos alimentos, ainda que plantados e pobres – meio da nossa sobrevivência – as pessoas que dos tijolos constroem os seus abrigos têm que à terra fazer demonstrar o valor que ela tem. E com isso não basta apenas que os pregadores preguem as suas doutrinas e não basta que os ouvintes os queiram ouvir, ou que sirvam apenas a cristo.
 Qual seria a corrupção da terra e o sal que nela não existisse, se de nós, que a ocupamos não lhe reconhecessemos os seus bem feitos enquanto nossa mãe, o seu nome e a sua natureza, transmintindo-o aos nossos filhos e aos nossos netos que transmitiriam aos seus filhos? Terra mãe. Nós, peles-vermelhas. Padre António Vieira que conta agora história de Santo António e o seu sermão aos peixes. Pois, este piedoso maltratado pelas pessoas que quase o despiam recusando-o e ao seu sermão.
 Padre António Vieira é agora nosso irmão. Doutrina essa que prega a cousa que enfrenta os seus discípulos ou ouvintes na corrupção que deixam na terra. Os colonos, essa gente que nos explora, jamais iriam ouvir ou querer ouvir o Padre Vieira ou Santo António nessas suas doutrinas, porque eles não se preocupam com o sal que falta à terra enquanto os seus apetites forem concretizados com o suor dos peles-vermelhas.
 Não queremos que os pisem ou que os desprezem. Os peles-vermelhas não são assim. Mas como pronunciara cristo, apenas queremos que nos deixem a liberdade para viver e preservar os valores e as rezas pela nossa terra irmã.

Gabriel Filipe Duarte Gonçalves
11 E   n10

Nenhum comentário:

Postar um comentário