Ao entardecer,
debruçado pela janela,
E sabendo de
soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem
os olhos
O livro de Cesário
Verde.
Que pena que tenho
dele! Ele era um camponês
Que andava preso em
liberdade pela cidade.
mas o modo como
olhava para as casas,
E o modo como
reparava nas ruas,
E a maneira como
dava pelas cousas,
É o de quem olha
para árvores,
E de quem desce os
olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar
nas flores que há pelos campos...
Por isso ele tinha
aquela grande tristeza
Que ele nunca disse
bem que tinha,
Mas andava na
cidade como quem anda no campo
E triste como
esmagar flores em livros
E pôr plantas em
jarros...
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos,
Poema III, in Obras de Fernando Pessoa,
vol. I, Lello & Irmão - Editores, Porto, 1986
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