domingo, 29 de janeiro de 2012

Oficina de escrita



Grande Inquisidor
Fui por si enviado para presenciar um sermão de Padre António Vieira e desse modo poder encontrar algo que o pudesse incriminar perante o nosso Tribunal da Inquisição.
Chegado a Lisboa, dirigi-me imediatamente para S. Roque, nada me fazia prever o que ali encontraria, apenas com o meu espírito sossegado faria o meu trabalho completamente convicto das minhas ideias sobre António Vieira e a sua incómoda e insinuante “voz”.
Após ter subido tortuosas ruas Lisboetas encontrava-me perante a Igreja, um edifício de fachada simples e austera, perfeitamente adequada aos cânones da igreja reformada, mas o seu exterior pouco ou nada me interessou, o meu trabalho chamava-me.
Centenas de pessoas encontravam-se à sua entrada, umas sentadas nas escadarias, outras em pé já prontas a entrar, outras observavam à distância com uma réstia de esperança que pudessem também elas entrar para ouvir um dos tão falados sermões de St. António. Eu, claro, dispus-me logo a entrar, não perderia por nada esta grandiosa oportunidade de incriminar este homem.
Foi nesse momento que, falando honestamente, me surpreendi como nunca antes me havia surpreendido. Nada me fazia prever a beleza estonteante, ou a riqueza que predominava aquele espaço. Fiquei completamente ofuscado, e terei de ser sincero, rapidamente esqueci o meu objetivo, apenas o meu olhar se prendia, às paredes, ao espaço, à arte, sem palavras era a minha situação.
Era um espaço amplo, um verdadeiro exemplar de uma igreja auditório, pronta e concebida para as melhores pregações, variadíssimas capelas preenchiam as suas paredes, claramente o barroco estava bem presente, mas a mais espantosa era sem dúvida a capela de S. João Baptista, uma autêntica obra-prima da arte italiana, única no mundo, constituída por quadros de mosaico, representando o Batismo de Cristo, o Pentecostes e a Anunciação, que beleza, quantos mármores ali se encontravam, o rico dourado com o esplêndido azul, de levar as lágrimas aos olhos do mais frio dos homens.
Todo o seu interior está repleto de telha dourada, pinturas e azulejos, quem poderia imaginar? O seu coro encontra-se estrategicamente posicionado nas costas dos fieis sobre a entrada principal.
Até a sagrada natureza impõem a sua presença, elementos botânicos revestem as paredes, as colunas entre outros, nos nichos sobre os dois púlpitos há estátuas de mármore branco dos quatro Evangelistas. No piso superior da nave está um conjunto de pinturas a óleo de beleza incomparável. Que horror ao vazio, sem comparação, tudo completamente coberto de arte, é uma exuberância, um dramatismo e dinamismo.
Por fim o meu olhar é puxado para o teto, quem haveria de dizer, que magnificência, um jogo de ilusão e riqueza, tais pinturas elevam o mais serio dos fieis a um estado espiritual fantástico, enganam o mundo com tais jogos, terei de me explicar melhor senhor, mas como, é como se duas abóbadas ou varandas se erguessem acima de nós, mas são falsas quem diria?, um espanto!
Mas bem, no momento que em Padre António Vieira entra e se mostra a nós toda a Igreja se cala para ouvir, as suas palavras começam a surgir, cria-se um ambiente, primeiro de felicidade, depois exaltam-se as almas, a verdade, a crua verdade é proferida, tão certa, tão sentida, uma revolta sincera, leva-nos puxa-nos para os nossos erros, para o nosso egoísmo e falsidade, quantos de nós estamos agora envergonhados pala nossa atuação na terra, quem somos nos para tais atitude, a mudança é imprescindível, necessária e urgente. O tempo passa rapidamente entre palavras, frases, parágrafos, hora também já lá vão, quem se preocupa com isso, ninguém, ninguém. Este homem ganhou tudo, a confiança, a adoração, o respeito de todos aqui dentro, eu inclusive não sou exceção.
Então subitamente acaba, o seu objetivo havia sido cumprido, aquela plateia ia agora para suas casas com um novo pensamento, uma nova esperança…
Quem sou eu? Sou diferente deles? Sou um homem à espera da verdade, mas que não pensa nas suas atitudes. Pelo menos agora sou diferente do que era antes desta experiência.
O meu trabalho aqui está feito, de mim mas não se espera, não sei se o meu objetivo foi cumprido como desejado. Nada de mal poderei dizer deste homem, porque nada de mal ele tem ou diz.

Assim me despeço de si Grande Inquisidor




Mafalda Bernardo, 11º A

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