«Alguns rapazes, com
muita mocidade e muito bom humor, publicaram, há dias, uma revista
literária em Lisboa. Essa revista tinha apenas de notável a
extravagância e a incoerência de algumas, senão de todas as suas
composições. Como a recebeu a imprensa diária? Com o silêncio que
merecia? Com as duas linhas indulgentes e discretas que é de uso
consagrar às singularidades literárias de todos os moços? Não. A
imprensa recebeu essa revista com artigos de duas colunas – na primeira
página. A imprensa fez a essa revista um tão extraordinário reclame, que
a primeira esgotou-se e já se está a imprimir a segunda. Ora semelhante
atitude está longe de ser inofensiva ou indiferente. Em primeiro lugar,
consagra uma injustiça fundamental; em segundo logar, favorece e
prepara uma seleção invertida. Eu bem sei que o reclame a certas obras é
às vezes feito à custa da veemente suspeita de alienação mental que
pesa sobre os seus autores. Mas n’este caso, como em outros muitos, é
justo confessar que os loucos não são precisamente os poetas, mais ou
menos extravagantes, que querem ser lidos, discutidos e comprados; quem
não tem juízo é quem os lê, quem os discute e quem os compra.
- Júlio Dantas, "Poetas Paranoicos", Ilustração Portuguesa, Lisboa, 19 de Abril de 1915, p. 481.
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