Sonorização
Correm-nos dias como hoje durante
o ano inteiro, durante a vida inteira, dias melhores, piores e ainda aqueles
que nem descrevemos.
Há quem os consiga ouvir melhor,
ou pior, já da idade. Há quem já não os oiça apenas pela vida que lhes foi
dada, tal como a língua que nos foi ensinada a falar, à qual o tempo retirou
consoantes surdas, retirou o “C” a tantos “amicums”, e reservou-nos tantos
amigos para o futuro. Há quem seja como o “P”, o “T” e mesmo como o “C”,
consoantes surdas que se ouvem, tal como um surdo se ouve, mas não passa de um
surdo, uma pessoa única, uma pessoa com dias como os nossos, mas que tem sempre
um apelido que não lhe foi dado, mas que lhe foi imposto.
As transformações que as palavras
sofrem são tantas, as pessoas põem e dispõem delas como se nunca tivessem
reclamado, enquanto se esquecem de tudo o que já disseram, tudo o que fizeram
para todo o abecedário se dar bem com todas as cordas vocais de milhares de
pessoas, que se cruzam com as frequências que nos dão música, mas que uma
consoante surda nunca irá ouvir, se continuarem a colocá-las em desuso.
Se forem tratadas assim, serão um
dia mudas, tal como o “muto”, que nunca falou, tal como o surdo que nunca
ouviu. Não conseguiram falar como o surdo nem ouvir como o mudo.
Ana Hermenegildo Nº2 11ºA
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