A Noite
Citadina
“E saio. A noite pesa, esmaga”
Cesário observa a noite marginalizada pela sociedade do século XIX, que teme
vaguear pelas ruas citadinas ao anoitecer. Pois para mim, por mais pesada que
seja a noite, terá sempre os seus encantos.
Gosto de observá-la, gosto de
compará-la, mas acima de tudo gosto de vivê-la. A noite, para mim, não pesa, nem
esmaga, vive. Vive numa dimensão paralela à nossa, onde cada alma noturna que nela
vagueia, tem uma história diferente da alma diurna.
A prostituta que naquele carro
entra, durante o dia é a vizinha Lurdes. Dois filhos, empregada de loja,
prestação da casa, luz, água, gás. É amiga, mãe, tia, filha, apenas durante o
dia. De noite é o excremento de uma sociedade egoísta, aquela que já não
serve, a marginal, a puta. A Lurdes do século XXI, é a mesma do séc. XIX.
Continua a ser o prazer de muitos e o receio de outros. Mal sabem eles, que
quem mais receia a chegada da noite, é Lurdes. Pois será ela que vagueará pelas
ruas, será a julgada, a abusada, a mulher da vida.
Eu sou apenas uma espectadora da
noite citadina. Nada temo, e nada julgo. Ao vaguear pelas ruas, também eu
serei o pensamento de muitos. Tal como os outros são o meu pensamento. “O que
fará aqui?” “Onde morará?”, São algumas das perguntas que me passam a mim e a
muitos outros, que sozinhos passeiam pela noite. Perguntas às quais nunca
iremos ter resposta. Mas não me incomoda, pois ao entrar em casa, esperarei
pela chegada do dia. E enquanto a sociedade me deixar, serei sempre a mesma
Elsa, seja de dia ou de noite. Não terei de recear a noite, nem o dia.
Elsa Severino nº9 11º E