domingo, 2 de dezembro de 2012

Oralidade

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Leitura, Dissertação, Improvisação:  21/11/2012

Leitura:

Trincava o Tempo
Mastigava relógios
Tudo ardia
Dias inexistentes
De momentos sem sentido
Tudo na mão
Nada na cabeça
Ausente da sua própria reflexão
Espelhos dos desejos
Realidade fria e vazia
Sozinho era o que ele estava
Sozinho numa casa cheia de gente

Dissertação:

A ideia para este poema surgiu-me enquanto estava a ver um filme: Os homens que odeiam as mulheres. Antes de ter visto o filme li também o livro, na verdade toda a trilogia, mas o filme trata apenas do primeiro livro da saga.
Na história a personagem principal é uma rapariga com grandes perturbações mentais devido à sua infância. O seu passado fez dela uma pessoa fria, distante, anti-social e com sérias dificuldades em se relacionar com a sociedade e os indivíduos à sua volta. Lisbeth, evitava ao máximo o contacto com outras pessoas e apenas mantinha um número selecto e restrito de relações essenciais. Era no entanto um génio informático e intelectualmente brilhante, apesar de nunca ter dado mostras disso na escola.
Esta personagem fez-me lembrar muito Fernando Pessoa. O escritor teve uma infância igualmente perturbada o que fez dele uma pessoa distante e com pouca capacidade para fazer amizades. Mantinha uma relação íntima com Mário Sá Carneiro e um romance com Ofélia, estas eram as pessoas mais presentes na sua vida. Também não se afirmou academicamente, tendo desistido do seu curso na Faculdade de Letras mas independentemente disso provou o seu valor enquanto escritor até aos dias de hoje.
O meu poema relaciona-se com esta não relação com o redor. A desconexão, a sensação de não pertença, de não integração. O faltar de qualquer coisa. Na verdade eu acho que não foram apenas Lisbeth e Pessoa que sentiram isto, todos sentimos este vazio de vez em quando. Faz parte da nossa vida, é um ponto de viragem, ou devemos fazer com que seja, devemos aproveitar este desconforto para fazer mudanças na nossa vida, no nosso comportamento, nas nossas companhias e não nos deixar cair na solidão. Parar um momento para pensar nos porquês de nos sentirmos assim e tentar mudar, as pessoas com quem nos damos, o sitio onde estamos, a nossa casa, qualquer coisa, mudar, mudar porque mudar pode ser bom. Mudar porque mudar faz-nos crescer e aprender.

Improvisação: A minha relação com as pessoas com quem não me relaciono

Ao longo da minha vida vou-me certamente deparar com pessoas com as quais não me vou relacionar. Vai faltar aquela afinidade, os interesses comuns, os temas de conversa e os gostos parecidos. Vai faltar. Vai haver um espaço a separar-me delas simplesmente porque não nos podemos relacionar da mesma forma com toda a gente. Essa não relação não tem de ser negativa, de ódio ou desprezo, pode ser apenas inexistente. Pode representar apenas o mínimo da boa educação e da cordialidade. O sorriso simpático, um bom dia ou um como vai a família. Nunca irá levar a programas, encontros, jantares, almoços ou momentos de grande proximidade. A distancia será sempre mantida porque essa será a minha relação com as pessoas com quem não me relaciono.


Margarida B. Gomes da Silva, Nº 15, 12ºA

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