Leitura,
Dissertação, Improvisação: 21/11/2012
Leitura:
Trincava
o Tempo
Mastigava
relógios
Tudo
ardia
Dias
inexistentes
De
momentos sem sentido
Tudo
na mão
Nada
na cabeça
Ausente
da sua própria reflexão
Espelhos
dos desejos
Realidade
fria e vazia
Sozinho
era o que ele estava
Sozinho
numa casa cheia de gente
Dissertação:
A
ideia para este poema surgiu-me enquanto estava a ver um filme: Os homens que
odeiam as mulheres. Antes de ter visto o filme li também o livro, na verdade
toda a trilogia, mas o filme trata apenas do primeiro livro da saga.
Na
história a personagem principal é uma rapariga com grandes perturbações mentais
devido à sua infância. O seu passado fez dela uma pessoa fria, distante,
anti-social e com sérias dificuldades em se relacionar com a sociedade e os
indivíduos à sua volta. Lisbeth, evitava ao máximo o contacto com outras
pessoas e apenas mantinha um número selecto e restrito de relações essenciais.
Era no entanto um génio informático e intelectualmente brilhante, apesar de nunca
ter dado mostras disso na escola.
Esta
personagem fez-me lembrar muito Fernando Pessoa. O escritor teve uma infância
igualmente perturbada o que fez dele uma pessoa distante e com pouca capacidade
para fazer amizades. Mantinha uma relação íntima com Mário Sá Carneiro e um
romance com Ofélia, estas eram as pessoas mais presentes na sua vida. Também
não se afirmou academicamente, tendo desistido do seu curso na Faculdade de
Letras mas independentemente disso provou o seu valor enquanto escritor até aos
dias de hoje.
O
meu poema relaciona-se com esta não relação com o redor. A desconexão, a
sensação de não pertença, de não integração. O faltar de qualquer coisa. Na
verdade eu acho que não foram apenas Lisbeth e Pessoa que sentiram isto, todos
sentimos este vazio de vez em quando. Faz parte da nossa vida, é um ponto de
viragem, ou devemos fazer com que seja, devemos aproveitar este desconforto
para fazer mudanças na nossa vida, no nosso comportamento, nas nossas
companhias e não nos deixar cair na solidão. Parar um momento para pensar nos
porquês de nos sentirmos assim e tentar mudar, as pessoas com quem nos damos, o
sitio onde estamos, a nossa casa, qualquer coisa, mudar, mudar porque mudar
pode ser bom. Mudar porque mudar faz-nos crescer e aprender.
Improvisação: A
minha relação com as pessoas com quem não me relaciono
Ao
longo da minha vida vou-me certamente deparar com pessoas com as quais não me
vou relacionar. Vai faltar aquela afinidade, os interesses comuns, os temas de
conversa e os gostos parecidos. Vai faltar. Vai haver um espaço a separar-me
delas simplesmente porque não nos podemos relacionar da mesma forma com toda a
gente. Essa não relação não tem de ser negativa, de ódio ou desprezo, pode ser
apenas inexistente. Pode representar apenas o mínimo da boa educação e da
cordialidade. O sorriso simpático, um bom dia ou um como vai a família. Nunca
irá levar a programas, encontros, jantares, almoços ou momentos de grande
proximidade. A distancia será sempre mantida porque essa será a minha relação
com as pessoas com quem não me relaciono.
Margarida B. Gomes da Silva,
Nº 15, 12ºA
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