“Lisboa
Pessoana”
Hoje foi um dia diferente
apesar de o frio ter continuado a abraçar-nos, como nos dias anteriores.
Abandonei a rotina por um dia, e em vez de seguir rumo à escola caminhei em
direção ao passado. O chão que pisava era o mesmo que Fernando Pessoa pisara e
isso fez-me recuar no tempo, imaginar como as ruas eram habitadas, se eram
muito movimentadas, as vestimentas das pessoas, os prédios, as rotinas... Esta
tentativa de imaginar como seria a Lisboa Pessoana foi ajudada pelos
professores e alunos presentes que, juntos, fizeram lembrar os espaços e
monumentos mais relevantes desse tempo, através de textos escritos por Pessoa.
(...)
Visita
de estudo na pele de Fernando Pessoa
Este dia foi palco de emoções
contrastantes. Senti-me muito feliz por ter a oportunidade de poder reviver os
espaços que frequentava, as ruas pelas quais passeava, e tinha, sobretudo, uma
enorme curiosidade de ver como Lisboa é hoje em dia. Mas o que me deixou mais
triste nesta visita foi o tempo, o tempo que me amaldiçoou e que não me deixou
ver a luz e o céu limpo da minha querida Lisboa.
Foi nostálgico ver as mesmas ruas:
alguns dos sítios que frequentava permanecem no mesmo sítio, com a mesma
decoração, com o mesmo objetivo. Um desses sítios é o café “A Brasileira” que
ironicamente tem, à sua porta, uma estátua, feita por Lagoa Henriques, que me
retrata. Esta estátua representa-me na esplanada do café, sentado à mesa com a
perna cruzada e uma cadeira vazia ao lado como convite a quem passeia pela rua.
O último espaço que visitámos, era um
dos que sentia mais necessidade. Antigamente passava horas a fio no Terreiro do
Paço, à beira do rio Tejo a meditar e a inspirar-me para a vida e para os meus
poemas.
Textos
apresentados pelo Grupo
(Daniela,
Sara, Catarina e Mariana Araújo)
Rua 1º de
Dezembro - Restaurante Leão d’Ouro
O “Restaurante Leão d’Ouro”
inaugurado no ano de 1872 , era um dos locais prediletos de Fernando Pessoa e
dos seus amigos que adoravam uma das características deste restaurante : a
ementa tradicional portuguesa. O restaurante tem um ambiente que nos transporta
para um passado recente, com azulejos e o mobiliário antigo que servem como
decoração.
Fernando Pessoa demonstrava o seu
gosto pela gastronomia em muitas das suas obras. Uma delas é o poema “Dobrada à
Moda do Porto” do seu heterónimo Álvaro de Campos.
“Dobrada à Moda do Porto”
Um
dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Estação
do Rossio
A Estação do Rossio reúne todos os
elementos em estilo Neo- Manuelino (esferas armilares e motivos marítimos), tem
omnipresente o mito Sebastianista e a Ideia do V Império.
Provavelmente, passa despercebido
aos olhos de qualquer pessoa, mas as portas da Estação estão desenhadas em
forma de ferradura, aludindo ao cavalo branco de D. Sebastião. Desta forma,
existe uma alusão à lenda de D. Sebastião, que diz que numa manhã de nevoeiro
ele regressará, reinando sobre todos nós e devolvendo à Pátria a grandeza do passado.
Entre todas as estátuas dos poetas
encontra-se uma estátua de D. Sebastião cercado com um escudo de 7 castelos.
Esta é mais uma referência ao V Império. Fernando Pessoa acreditava que o V
Império seria um império espiritual de poetas.
Foi também aqui, na estação do
Rossio, que muitas vezes Fernando Pessoa aguardava a chegada do seu amigo Mário
de Sá Carneiro. O poema “O Ter Deveres” de Álvaro de Campos (heterónimo de
Fernando Pessoa) é um dos poemas que refere as despedidas de Pessoa a Mário de
Sá Carneiro na estação do Rossio.
“O Ter Deveres”
O
ter deveres, que prolixa coisa!
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior — despedida
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris ...
Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...
Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...
Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior — despedida
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris ...
Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...
Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...
Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
Daniela, 12º E
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