domingo, 2 de dezembro de 2012

Relatório da visita de estudo




“Lisboa Pessoana”
                Hoje foi um dia diferente apesar de o frio ter continuado a abraçar-nos, como nos dias anteriores. Abandonei a rotina por um dia, e em vez de seguir rumo à escola caminhei em direção ao passado. O chão que pisava era o mesmo que Fernando Pessoa pisara e isso fez-me recuar no tempo, imaginar como as ruas eram habitadas, se eram muito movimentadas, as vestimentas das pessoas, os prédios, as rotinas... Esta tentativa de imaginar como seria a Lisboa Pessoana foi ajudada pelos professores e alunos presentes que, juntos, fizeram lembrar os espaços e monumentos mais relevantes desse tempo, através de textos escritos por Pessoa.
            (...)

Visita de estudo na pele de Fernando Pessoa
            Este dia foi palco de emoções contrastantes. Senti-me muito feliz por ter a oportunidade de poder reviver os espaços que frequentava, as ruas pelas quais passeava, e tinha, sobretudo, uma enorme curiosidade de ver como Lisboa é hoje em dia. Mas o que me deixou mais triste nesta visita foi o tempo, o tempo que me amaldiçoou e que não me deixou ver a luz e o céu limpo da minha querida Lisboa.
            Foi nostálgico ver as mesmas ruas: alguns dos sítios que frequentava permanecem no mesmo sítio, com a mesma decoração, com o mesmo objetivo. Um desses sítios é o café “A Brasileira” que ironicamente tem, à sua porta, uma estátua, feita por Lagoa Henriques, que me retrata. Esta estátua representa-me na esplanada do café, sentado à mesa com a perna cruzada e uma cadeira vazia ao lado como convite a quem passeia pela rua.
            O último espaço que visitámos, era um dos que sentia mais necessidade. Antigamente passava horas a fio no Terreiro do Paço, à beira do rio Tejo a meditar e a inspirar-me para a vida e para os meus poemas.

Textos apresentados pelo Grupo
(Daniela, Sara, Catarina e Mariana Araújo)

Rua 1º de Dezembro  -  Restaurante Leão d’Ouro
            O “Restaurante Leão d’Ouro” inaugurado no ano de 1872 , era um dos locais prediletos de Fernando Pessoa e dos seus amigos que adoravam uma das características deste restaurante : a ementa tradicional portuguesa. O restaurante tem um ambiente que nos transporta para um passado recente, com azulejos e o mobiliário antigo que servem como decoração.
            Fernando Pessoa demonstrava o seu gosto pela gastronomia em muitas das suas obras. Uma delas é o poema “Dobrada à Moda do Porto” do seu heterónimo Álvaro de Campos.
  
“Dobrada à Moda do Porto”
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Estação do Rossio
            A Estação do Rossio reúne todos os elementos em estilo Neo- Manuelino (esferas armilares e motivos marítimos), tem omnipresente o mito Sebastianista e a Ideia do V Império.
            Provavelmente, passa despercebido aos olhos de qualquer pessoa, mas as portas da Estação estão desenhadas em forma de ferradura, aludindo ao cavalo branco de D. Sebastião. Desta forma, existe uma alusão à lenda de D. Sebastião, que diz que numa manhã de nevoeiro ele regressará, reinando sobre todos nós e devolvendo à Pátria a grandeza do passado.
            Entre todas as estátuas dos poetas encontra-se uma estátua de D. Sebastião cercado com um escudo de 7 castelos. Esta é mais uma referência ao V Império. Fernando Pessoa acreditava que o V Império seria um império espiritual de poetas.
            Foi também aqui, na estação do Rossio, que muitas vezes Fernando Pessoa aguardava a chegada do seu amigo Mário de Sá Carneiro. O poema “O Ter Deveres” de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa) é um dos poemas que refere as despedidas de Pessoa a Mário de Sá Carneiro na estação do Rossio.

“O Ter Deveres”
O ter deveres, que prolixa coisa!
Agora tenho eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior — despedida
Do amigo que vai no "Sud Express" de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris ...

Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o "Sud Express" soubesse, descarrilava...

Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...

Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.

Daniela, 12º E

Nenhum comentário:

Postar um comentário