Leitura:
Texto da página do meu diário literário:
A coincidência
A coincidência não
existe. Houve já outro tempo em que fomos nós a escolher e a decidir. Em que
falávamos uma língua muda e soubemos; soubemos que era bom não saber(mos) nada,
mas só porque o sabíamos. A comunicação era tão simples quanto uma linha
imaginária entre tu e eu. Entre ela e nós, entre eles e tu. Todos juntos
fazíamos parte de uma teia, resumidos assim a uma existência tranquila e sem
mal entendidos. Um dia decidimos deixar de saber que era bom não saber.
Partimos a teia e enrolámos as linhas à volta das nossas cabeças. Agora era
preciso termos bocas e ouvidos e olhos. Mas apesar de tudo, ainda restaram
alguns de nós que conseguem imaginar a linha na mesma. E é por isso que, quando
alguém adivinha o que eu estou a pensar, sei que nunca é uma coincidência.
Dissertação:
Quem somos nós? Agora, antes
e depois? Agora a língua falada que ninguém sabe, antes a língua muda que todos
sabiam e depois nem o mais louco dos loucos sabe.
Somos pontos em movimento,
somos uma sociedade, somos uma só mente a funcionar em massa e serão as nossas
ações mentais autónomas? Não.
Mas o nosso pensamento
ninguém controla, e é aqui que regressamos sempre ao passado e conseguimos
estabelecer conexão, que como já está fundida, só a imaginamos com uma outra
mente, e é então que na mesma fração de segundos, a coincidência surge. Agora,
será coincidência ou será o nosso pensamento a funcionar em massa?
As coincidências não
existem. Estamos por um fio, esse fio é alimentado e por vezes parte, outras
vezes não. É assim. Agora a verdade, nunca a iremos saber! Nunca iremos saber
se o pensamento por vezes transformado em voz, outras vezes imaginado, é mesmo
uma não coincidência e uma linha imaginária entre duas mentes, ou se é uma
linha menos imaginária entre mim e todos, entre tu e todos.
De qualquer modo, nada disto
existe.
Improvisação:
“A grande coincidência que
não se deu”
De reforçar, uma e outra
vez, que as coincidências não existem, muitos menos as grandes. Seria errado
pensar, que a fração de segundos em que conseguimos imaginar a linha, seja uma
coincidência. Porque não é. É natural então, que a grande coincidência não se
tenha dado, ela nem sequer existe. A grande não coincidência que não se deu,
foi porque foi difícil de dar. É uma linha fina, que neste caso, estava a ser
estabelecida por mais do que duas mentes, bem que a alimentamos, mas bem que
ela quebrou.
É raro as não grandes
coincidências se darem, mexe-se demasiado com o passado, porque desde a altura
em que decidimos que era bom não saber, e que partimos a teia de linhas em que
nos encontrávamos todos,http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7512363313791371847#editor/target=post;postID=4302373816170163681 que é quase impossível. Quando partimos a teia, fomos
obrigados a ter olhos, narizes e bocas, e para quê? Para nos guiarmos pelos
sentidos, mesmo não sendo esta uma fonte fiel, era o que tínhamos e temos. Mas
alguns de nós ainda conseguem por vezes imaginar as linhas que existiam quando
nos encontrávamos unidos numa teia, e quando acontece com várias mentes, a
linha fica tão forte, tão forte que rebenta. Como teria sido bom, não termos
deixado de saber que não sabemos.
Mariana Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário