RELATÓRIO DA VISITA DE ESTUDO
NA PELE DE FERNANDO PESSOA
O dia
começa cedo, molhado, húmido e cinzento. Começo por percorrer os caminhos da minha
baixa Lisboeta. Do Miradouro do Adamastor, avisto aquilo que em tempos foi a
dor de mulheres e crianças, verem a ir para o mar seus maridos e pais. A chuva
não para, e o tempo também não.
Aquilo
que ontem, à saída do miradouro, foram palácios, amanhã serão museus ou bancos.
Desço em direção à minha primeira casinha, o nº44, no 4º andar, onde nasci, em
13 de junho de 1888, e de onde ouvia os sinos tocarem, vezes sem conta, vindos
da igreja vizinha. Em frente, encontra-se o teatro de S. Carlos, local que
gosto de frequentar, talvez por meu pai ter sido crítico musical.
A
manhã ainda mal começara, e ao passar pela Rua Garrett, vejo, aquela que foi
igreja onde meus pais me batizaram em 21 de Julho de 1888, a Basílica dos
Mártires. Passo pelo Largo do Carmo, onde morei, depois de sair da Faculdade de
Letras e de onde escrevi a minha obra A Mensagem. Desço, rumo ao Rossio, pela
estação de comboios, onde muitas vezes espero o meu grande amigo Sá Carneiro.
Mesmo ao lado, mora o meu amor, Ophélia, por quem tenho um amor platónico e a
quem escrevo cartas, demonstrando a sua importância na minha vida. Mora mesmo
ao pé do restaurante, Leão de d'Ouro, onde satisfaço as minhas necessidades
gastronómicas com os meus amigos, com quem partilho interesses
culturais.
Para
acabar este meu passeio pelo passado, nas ruas da Baixa-Chiado relembro todas
aquelas firmas onde trabalhei, com as mais variadas profissões, como na Rua Augusta
na E. Dias Serras, lda., importação
– representações, na Rua da Victória, durante a década de 20, nos escritórios de Frederico Ferreira & Ávila, ld.ª , ou, rua do Ouro , na
minha firma de “Comissões e consignações” , que partilhava com mais dois amigos
Geraldo Coelho e Augusto Ferreira Gomes.
ELSA SEVERINO Nº10/12ºE
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