“Ele chega
hoje e dirige-se de imediato à igreja de S. Roque assim que o navio atracar no
porto. Estarei lá para ouvir e condenar o seu sermão pelas ideias controversas
que apresenta contra a cristandade da igreja!
A fachada é
extremamente simples, porque escolheu ele este lugar?”
O inquisidor
entra na igreja e benze-se de olhos postos no chão, retira do bolso um lápis e
um pequeno livro, onde anota todos os seus pensamentos, e seria exatamente isso
que faria agora.
Levantou os
olhos para o púlpito de onde Vieira faria o seu sermão. De repente sentiu-se
extasiado. Boca aberta, exprimindo a sua surpresa; olhos esbugalhados, tentando
absorver cada detalhe: a talha dourada que ornamentava as belas capelas, as
colunas preenchidos com videiras (simbolizando o vinho, sangue de Cristo), as
belíssimas esculturas de mármore, todos os quadros nas paredes e pinturas no
teto que, como ele sabia bem, simbolizando a auto afirmação da fé da igreja que
idolatrava.
Começavam a
chegar os nobres, que se sentavam nas suas cadeiras ali colocadas pelos seus
pajens no dia anterior; os diferentes membros do povo que, de pé, se
acomodavam, ocupando gradualmente o chão de toda a igreja. Aos poucos o
auditório do Padre António Vieira chegara e o Inquisidor aparentava apenas
conseguir apenas concentrar-se nas pinturas do teto…
Como eram
belas! E os brasões! Em pedra, como os anjinhos que preenchiam as paredes de
algumas capelas e, na cabeceira da bela igreja de salão, com a sua bela fachada
de templo simétrico, com a estátua da virgem em baixo… e como era bela, com o
seu olhar humanizado e o menino ao colo. Como o enchia de ternura tal imagem.
O sermão já
havia começado. Todos atentos, excetuando o Inquisidor, que nem notou a
presença de Vieira… deambulava pela igreja apreciando as magnificas obras de
arte, os azulejos que revestiam as paredes, o órgão revestido a ouro, a capela
encomendada por D. João V, com o seu chão de mosaico reluzente e os mármores
resplandecentes, a capela de Nossa Senhora da Piedade, onde ela segura o corpo
sem vida de Cristo. – O Inquisidor torna a benzer-se – as colunas torças, as
esculturas em vulto… tudo tão belo.
Agradado por
toda a beleza em seu redor o Inquisidor pega no seu caderninho e escolhe a
capela de S. Roque para desenhar um ou outro detalhe… e o discurso decorre sem
a sua atenção…
Francisco, 11º D
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