domingo, 16 de junho de 2013

O sarau


No Sarau tudo estava calmo. A música clássica ecoava junto das paredes da imensa sala, transmitindo uma sensação e experiência sonora única. Um pensamento de melancolia e prazer momentâneo surgia na mente dos ouvintes, dos que escutavam atentamente aquela maravilhosa melodia. Carlos e os restantes acompanhantes faziam-se vítimas deste pecado audível. Um pouco depois do início do sarau, estes viram-se obrigados a interromper o momento que a todos era agradável, resultado do discurso inconveniente e frio de Dâmaso:

- Ah…já havia saudades destes momentos de sossego mental, de puro prazer para os meus funcionais ouvidos! Não acha Sr. Maia? Pois eu, sempre que me era permitido ia lá em Paris assistir a muitos destes eventos. Eventos, mas não eventos assim…estes aqui são, como hei-de dizer…pobrezitos. A qualidade de pessoas não se compara à qualidade parisiense. Lá as pessoas vestem-se como se não houvesse o dia de amanhã. Trajes chiques, modernos, feitos por costureiras de renome das maiores e melhores casam francesas. Ah!, e para não falar que cada mademoiselle tem o seu chien. Mas não são cães daqueles de cá de Portugal, não…não são rafeiros alentejanos. São cãezitos peludos cujo tamanho permite às senhoras que os carreguem a seu colo. Sim, porque lá é permitido ir às óperas e aos saraus com animais, nomeadamente ao colo. Enfim, é uma questão de superioridade e de princípio. Coisas que este país não entende. As melhoras são o que eu desejo a Portugal, mas até estas surgirem, irei com todo o meu gosto e prazer visitar o meu tio a Paris. Aqui entre nós, não é só por causa dele que vou àquela terra. Vou lá para gozar e aproveitar os ares. Ah e ainda não falei das… - Dâmaso não continuou mais o seu discurso. O grupo de pessoas que se situavam no camarote de cima esqueceram-se das maneiras da época e com um grito uníssono mandaram calar Dâmaso. Posteriormente, o sarau continuou como era suposto. Rico em música soberba, sem quaisquer outras distrações. 

Catarina Pires

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