(olhando um poeta pintor, como de costume à poesia – pintura agora lê de
frente ao verso...).
Saturna, a cor. Pedem-lhe as ruas melancolia tal, que esta conjunção entre o laranja
avermelhado que mal se apercebe do preto escuro que lhe adorna, da noite – não
lhe convinha senão de forma tão peculiarmente impressionante as sombras pesadas
“da bílis” que transtornaram há muito, não só outros, como este Cesário pintor
– ofereceu aos crentes dessas Ave Marias.
Belíssimo,
o quadro. A interferência dos exteriores, revestindo-se em contornos diluídos de edifícios monótonos pelas ruas, tão sós que iguais parecessem;
quase que me confundiram agora em crítica surrealista a uma noite fechada.
Rebolam,
as emoções. Denotem-se estas típicas! Génio fora Cesário conseguindo pintar
como nenhum outro fizera, os sentimentos tão paradoxais, mas génios nesta sua
Ave Maria, entre a felicidade que me parecesse lá ao fundo de outros tantos pontinhos
vindos do mundo. Estrangeiros habituais, talvez. E a mesma agora, enjauladas de
pernas para o ar, edifica somente o degredo dos carrilíneos que atravessam uma
Lisboa antiga.
Infinito,o
quadrado. Assemelham-se os elementos, mas continuo transtornado por tamanha
história em tão pouca cor. Se calhar não me devo deixar admirar, pois me recordo
agora na memória impressionismo que me paira em contexto.
E falo de tantos elementos, como quem vê
operários, aos tantos, debruçados sobre a despreocupação da enfadonha fasquia
que segue, percebo, a mim, até ao cais. Ao famoso. Ah! Que me ocorrera o
escritor, que não me ocorre agora o nome, tais versos, tão citadinos:
“E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!”
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!”
Lembram-me estas figuras no Tejo, a pintura que
enfrento, agora. Inspiram-me a alma.
O dia e a noite, pela tarde. O barco que
auxilia, também a este canto, romantiza todos os outros e mais alguns, e hotéis
e casas que parecem estar na moda. Acho bela, a forma como este barco tudo
abarca.
“Melhor que andar, é descalçar os sapatos “; não sei pois de quem, mas por bem dissera, que Lisboa, tão gasosa a bordo de fragatas e prédios, e livros e poetas e noite, que se envolve numa peste de infeção que corrói a dignidade dos seus moradores.
“Melhor que andar, é descalçar os sapatos “; não sei pois de quem, mas por bem dissera, que Lisboa, tão gasosa a bordo de fragatas e prédios, e livros e poetas e noite, que se envolve numa peste de infeção que corrói a dignidade dos seus moradores.
E
chega de impressionismos, passemos a outra.
Gabriel
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