domingo, 6 de maio de 2012

Pintadinho



(olhando um poeta pintor, como de costume à poesia – pintura agora lê de frente ao verso...).

  Saturna, a cor. Pedem-lhe as ruas melancolia tal, que esta conjunção entre o laranja avermelhado que mal se apercebe do preto escuro que lhe adorna, da noite – não lhe convinha senão de forma tão peculiarmente impressionante as sombras pesadas “da bílis” que transtornaram há muito, não só outros, como este Cesário pintor – ofereceu aos crentes dessas Ave Marias.
  Belíssimo, o quadro. A interferência dos exteriores, revestindo-se em contornos diluídos de edifícios monótonos pelas ruas, tão sós que iguais parecessem; quase que me confundiram agora em crítica surrealista a uma noite fechada.
  Rebolam, as emoções. Denotem-se estas típicas! Génio fora Cesário conseguindo pintar como nenhum outro fizera, os sentimentos tão paradoxais, mas génios nesta sua Ave Maria, entre a felicidade que me parecesse lá ao fundo de outros tantos pontinhos vindos do mundo. Estrangeiros habituais, talvez. E a mesma agora, enjauladas de pernas para o ar, edifica somente o degredo dos carrilíneos que atravessam uma Lisboa antiga.
  Infinito,o quadrado. Assemelham-se os elementos, mas continuo transtornado por tamanha história em tão pouca cor. Se calhar não me devo deixar admirar, pois me recordo agora na memória impressionismo que me paira em contexto.
  E falo de tantos elementos, como quem vê operários, aos tantos, debruçados sobre a despreocupação da enfadonha fasquia que segue, percebo, a mim, até ao cais. Ao famoso. Ah! Que me ocorrera o escritor, que não me ocorre agora o nome, tais versos, tão citadinos:
“E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no sul, salvando um livro a nado!
  Singram soberbas naus que eu não verei jamais!”
  Lembram-me estas figuras no Tejo, a pintura que enfrento, agora. Inspiram-me a alma.
  O dia e a noite, pela tarde. O barco que auxilia, também a este canto, romantiza todos os outros e mais alguns, e hotéis e casas que parecem estar na moda. Acho bela, a forma como este barco tudo abarca.
 “Melhor que andar, é descalçar os sapatos “; não sei pois de quem, mas por bem dissera, que Lisboa, tão gasosa a bordo de fragatas e prédios, e livros e poetas e noite, que se envolve numa peste de infeção que corrói a dignidade dos seus moradores.
  E chega de impressionismos, passemos a outra.

Gabriel

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