Texto
sobre o verso de Cesário Verde
“Plantas
ornamentais secam nos mostradores”
Dizia Zeca que a cidade é um chão
de palavras pisadas e um céu de palavras paradas. E é mesmo. Eu que o diga, às
07h12m da manhã, lá vou, sentado no comboio, respiro fundo e penso que vidas
são estas das pessoas que nos rodeiam e que se cruzam connosco sem nunca vermos
a saber para onde vão. Só vemos os ornamentos. Sei que agora sou incoerente,
que penso uma coisa e digo outra. Mas os olhos não enganavam, e espreitei pela
janela suada do comboio, e pude ver alguma chuva “molha-parvos”. Cheguei.
A sonolência envolvia a cidade de
Lisboa nessa manhã macambúzia, as horas madrugadoras deixavam a manhã ainda
mais escura do que o que já estava a ser, nem os supostos ornamentos apelativos e
decorativos tinham força suficiente para mudar o dia. Creio que estava
destinado. Quanto mais escurecia, menos reparava nas coisas, e mais eu me
desfazia.
Creio que é sempre assim. Mas hoje,
as plantas estavam secas, é que já não chovia há muito.
Mariana Ferreira
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