domingo, 6 de maio de 2012

“Plantas ornamentais secam nos mostradores”


Texto sobre o verso de Cesário Verde
Plantas ornamentais secam nos mostradores”
Dizia Zeca que a cidade é um chão de palavras pisadas e um céu de palavras paradas. E é mesmo. Eu que o diga, às 07h12m da manhã, lá vou, sentado no comboio, respiro fundo e penso que vidas são estas das pessoas que nos rodeiam e que se cruzam connosco sem nunca vermos a saber para onde vão. Só vemos os ornamentos. Sei que agora sou incoerente, que penso uma coisa e digo outra. Mas os olhos não enganavam, e espreitei pela janela suada do comboio, e pude ver alguma chuva “molha-parvos”. Cheguei.
A sonolência envolvia a cidade de Lisboa nessa manhã macambúzia, as horas madrugadoras deixavam a manhã ainda mais escura do que o que já estava a ser, nem os supostos ornamentos apelativos e decorativos tinham força suficiente para mudar o dia. Creio que estava destinado. Quanto mais escurecia, menos reparava nas coisas, e mais eu me desfazia.
Creio que é sempre assim. Mas hoje, as plantas estavam secas, é que já não chovia há muito. 

Mariana Ferreira

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