segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Oralidade


Apresentação oral de Português – leitura, dissertação e improvisação

Leitura
O homem que não conseguia
Tentou uma e depois várias vezes e depois já não conseguia deixar de tentar. Por mais que tentasse não conseguia. Não valia a pena tentar. Ele sabia que não conseguia.
Tentava, sabendo de antemão que não conseguia. Sabia que se enganava na tentativa, que não havia maneira de chegar lá. Voltava e repetia, recomeçava sabendo que tinha de voltar atrás. Ele sabia que não havia maneira de chegar lá.
Não nos foi dado conseguir chegar lá, dizia, e não entendia. Deram-nos só a tentativa, a absurda tentativa de chegar lá, protestava, sabendo que ninguém iria concordar. Quase feitos para chegar lá. Feitos para recomeçar não para acabar. Feitos para voltar atrás, mas não ao mesmo começo. Feitos para procurar o que não se pode encontrar por não se saber sequer o que se procura, e não poder perguntar porque nem a pergunta se sabe perguntar.
A vida é o que é e nos quase nada. Ou então somos nós que somos tudo e a vida que temos muito pouco sempre a passar. Ou então o que nós somos é esse quase chegar lá sem conseguir chegar lá e voltar atrás e recomeçar por outro começo, pensava ele, cada dia de uma maneira diferente para não cansar. Quando olhas uma cara podes ver o sorriso nascer-lhe da boca. Mas também podes ver os ossos do crânio onde se fixam os músculos da cara. Não é um bom exemplo, ele sabia, só que não conseguia um melhor. O que tu vês é uma tentativa sem chegares a ver o que está lá. Se fechares os olhos é melhor. Se fechares os olhos, então ficas mais perto, um bocadinho mais perto de chegar lá, aconselhava o homem que não conseguia.
Se conseguisses era para descobrires que nada havia para descobrires; se chegasses lá vias logo que não era ali que querias chegar; se chegasses lá não conseguias voltar atrás, ficavas lá, onde não querias ficar. Era mesmo o pior que te podia acontecer, que é mais nada poder acontecer, dizia, sabendo que não conseguia dizer exatamente o que queria.
Paixão, Pedro. Viver todos os dias cansa. Lisboa. Edições Cotovia, 1995







Dissertação
O autor deste conto é bastante negativo, mas ao mesmo tempo realista, porque sim, é verdade que muitas vezes não conseguimos chegar lá. Segundo ele somos criaturas que não chegam lá, que não conseguem, mas ao mesmo tempo não desistem. O que é um pouco contraditório, porque ele mesmo diz que não há qualquer hipótese de chegar lá, então se não há porque é que continua a tentar? Não percebo…. Se calhar é por ainda ter um alguma esperança escondida de conseguir. Ele diz que se chegarmos lá vamos ver que não é ali que queremos estar, então porquê saber que não conseguimos, tentar à mesma e saber que não é esse o fim que queremos? Somos todos umas pessoas à deriva que não sabem o que querem, o que procuram! Segundo ele “o que nós somos é esse quase chegar lá sem conseguir chegar lá e voltar e recomeçar, sempre por outro começo, pensava ele, cada dia de uma maneira diferente, para não cansar”. Então o que nós somos é onde chegamos e o que conseguimos? O que e que nós realmente somos e o que é que estamos aqui a fazer? “Somos feitos para recomeçar, não para acabar”. Somos então pessoas que nada terminam mas tudo querem… queremos o tudo e temos o nada? É injusto e não será realmente assim, podemos não conseguir chegar lá mas temos sempre algo e temos que saber aproveitar isso e transformar em algo bom. Em algo melhor e melhor para nós.

Improvisação - E o que fazias se chegasses lá?
Se chegasse lá ia ser diferente. Acho eu… Iria pensar em tudo o que passei e aproveitar e valorizar ter chegado lá. Porque muitas vezes quando eu consigo alguma coisa esqueço-me do que já tive e por alguma razão penso que sempre fui assim ou já tive isto, mas não tive. Se eu chegasse lá acho que seria feliz, mas isso não posso ter a certeza, mas enquanto não chego lá estou bem. Espero chegar lá, porque o lá parece melhor que o aqui... mas será que precisamos de chegar lá? Não quer dizer que não consigamos, mas será que precisamos? Não será tudo uma ilusão de um mundo perfeito quando temos tudo ótimo e chegamos lá, mas esse lá não existe? Não sei, e já nem sei se quero chegar lá… eu quero ser feliz, quer lá quer aqui, porque eu nem sequer sei o que é o lá!

Maria José, 11º E

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