domingo, 18 de dezembro de 2011

Relatório de um inquisidor




Vós, que dominais os seus ouvintes e marcais o seu futuro com heréticas ideias, tendes a vossa fortuna dominada e marcada por mim, e sentenciada pelo santo tribunal. Deitou-me Deus a bênção que vos condenasse, de pavorosas ideias, e vos encaminhasse para o inferno donde saístes.
Por isso dirijo-me ao Santíssimo Tribunal e escrevo ao Grande Inquisitor.

 Vossa santidade, meu prestigioso padre e símbolo do Santo Tribunal.
Como vós rogastes, em 1642 no decorrido dia 5 de Fevereiro, a minha pessoa encaminhou-se em direção à Igreja de São Roque e assim me dispus para declarar a culpabilidade do padre e das suas ideias heréticas. Sobre a grande majestade de São Roque assim me deparei com um dilema.
Como? Sobre tanta graciosidade barroca pode um homem sentir tanta aversão e rancor? Como? Ouvindo palavras mais belas e perfeitas posso repugnar o seu pregador?  Ideias nobres sobre um chão de luz, tal voz prolongada sob um teto grandioso, e uma emoção tão cativante rodeada de uma arte magnífica, sinuosa, simples e complexa.
Hipnotizado pela luz incandescente na simplicidade do estilo maneirista e na ornamentação do barroco português. Talvez vossa santidade, tenha sido manipulado por forças de um demónio ou encaminhado em direção à luz por um anjo, pois tal milagre gracioso só poderá provir de tão bela arte, de capelas douradas, de tetos grandiosos como pantheon romano, tal altura que atinge os céus e eleva os fiéis a um plano de simples pureza e palavras poéticas e sensatas.
Livrai-me desta manipulação, pois eu sozinho não me domino e não consigo subjugar as letras, as sílabas, as palavras, as frases e os textos deste padre demoníaco.
Soltai-me destas amarras de ouro puro, pois quem mas prendeu, foi esse Padre António Vieira.     

Diogo Dias. 11º A

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