segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Relatório de um Inquisidor


Trabalho sobre a visita de estudo a S. Roque




Suposto pois escrever algo de modo a que o Padre António Vieira seja julgado pela Inquisição, não o consigo fazer! Estou preso! Estou preso numa porta, a do Paraíso! Fiquei impressionadíssimo com a sua sabedoria
Longa distância percorri, não quero que vá em vão todas estas recordações. Recordações dos meus pesados passos a baterem na calçada branca, ainda nova, da multidão formada no largo, a perguntar sobre o que é que seria o sermão naquele dia, formulando frases, afirmações e interrogações, que foram deitadas dos seus corpos ardentes para o fresco ar, misturando-se com os cheiros das flores, dos cafés, das perfumes… Melodia harmoniosa se formava constantemente!
Quando já estava na altura de entrar, tudo, numa passada lenta e calma, tentava escolher o melhor lugar da audiência.
Ao entrar na Igreja de S. Roque, evidenciou-se um monumento ímpar! Composta por uma fachada simples e austera, o interior deste jesuítico é rico em trabalho de talha dourada, mármores policromados, azulejaria, composições em mosaicos, pintura, escultura e relicários. Uma igreja salão compacta, desenvolvendo-se em andares com galeria sobre capelas laterais e cuja achada rígida, e de uma grande simplicidade, se articula em superfícies lineares. Encanto infinito!
À medida que me ia deslumbrando cada vez mais, surgiam histórias e mais histórias, revestidas por uma fina e leve talha, que permanecia descansada sobre estas.
Anjos calmos, assim como crianças, criam um cenário familiar e harmonioso. Um santo pronto a dar a mão e ajudar quem mais precisa.
Pintura ilusória, com uma perspetiva conseguida de abóbada, sobre um teto de madeira com uma superstrutura de vigamento, define-se num sistema arcaizante.
A riqueza vocabular e domínio verbal, os paradoxos e os efeitos persuasivos, seduzem a clareza dos seus argumentos de tom, e certas subtilezas irónicas, que o Padre António Vieira torna a sua arte em algo magnífico como a Igreja o é!
À medida que falava, a sua boca ia-se abrindo numa lentidão imensa, as palavras voavam com expressividade, com delicadeza. Saboreava-se o momento! Palavras que se apreciam, que salgam a nossa mente. Salgam pois porque precisamos de tal cousa! Precisamos de que nos abram os nossos olhos. Ele apenas nos diz a verdade! Porquê ocultar este dom?! Esta dádiva?! Sabemos que Jesus nasceu, viveu e morreu na pobreza e apenas quer que sejamos irmãos! Porque nos interessamos, nós, se somos grandes, se somos pequenos ou médios? O que interessa são as nossas ações! Porque, afinal, andamos a salgar a nossa terra? Não podemos, simplesmente, deixá-la em paz? Mas para isso teríamos de magoar o próximo com interesses económicos ou políticos. Já chega!
Não nos interessa se, no exterior, somos diferentes. O que aqui interessa são as nossas ações, o nosso interior, a capacidade de resolver as coisas. Fomos todos criados por Ele. Para quê magoar e ferir os nossos, amados e estimados, irmãos?
Como o Padre António Vieira disse, os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; praticam ações distintas da sua pregação; pregam-se a si próprios e não a Cristo e como os ouvintes não querem receber a verdadeira doutrina seguem as ações negativas dos pregadores e não as suas palavras; servem os seus caprichos em vez de servirem a Jesus Cristo.
Estes sermões são a realidade concreta! Porquê ocultarmos tal facto?
Paremos a tempestade que estamos a construir! Pisemo-la! Mas por amor de Deus, ajudemo-nos todos com Irmãos!
Peço, portanto, que vós, que não estadeis à espera que o resultado da missão fosse este, aceitai e encarai estes factos como Deus quer que o façamos!
Maria José Sousa, 11º D, nº 20

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