sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Visita de estudo: relatório de um inquisidor



- Não posso! – Pensei eu enquanto aguardava o silêncio dos ouvintes para começar o sermão. Mas não fui capaz nem sequer de me recordar de uma única das suas palavras.
Apenas me saiu do fundo do peito as seguintes palavras:
“Aqui respira-se arte. Respira-se esplendor! Basta-nos olhar para a as talhas douradas aqui presentes que a nossa alma é invadida de pureza. Já para não falar de todos os santos cá presentes, são de facto a melhor manufactura que vi até entao. Esta amplitude faz-nos voar e pairar sobre toda esta estrutura maneirista. O mármore… As telas… Os painéis dos azulejos meus ouvintes! Já reparam na virtude que é estar aqui; aqui nesta igreja, que não é uma simples igreja, é de facto um espaço cénico e que ganha vida com um simples profundo olhar.
Deem graças ao grandioso Filipe Terzi, arquitecto que fez deste local, um cenário brilhante, realçado pelos jogos de claro/escuro maneiristas e pelos cuidadosos efeitos de iluminação das pratarias.
Reparem o que seria adormecer a contemplar o medalhão presente no tecto. Acordar e contemplar o estilo barroco da capela do santíssimo. Reparem! Seria uma dádiva.
Mas lamentável é dizer que talvez tenha sido a primeira e a última visita a este espaço. Dos cinco sentidos que todos temos, levo do olfato o cheiro da igreja assim que dei o primeiro passo, levo do tato apenas o puro ar que me passa pelas mãos como cetim, levo da visão … ai a visão… levo todo este dourado, este mármore e azulejos, e finalmente do paladar, levo o sabor que ganham as palavras referidas a tudo isto, porque até elas ganham outro sentido.

Mariana Santos, Nº21, 11ºE


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