segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Os pensamentos de um inquisidor



                “Ele chega hoje e dirige-se de imediato à igreja de S. Roque assim que o navio atracar no porto. Estarei lá para ouvir e condenar o seu sermão pelas ideias controversas que apresenta contra a cristandade da igreja!
            A fachada é extremamente simples, porque escolheu ele este lugar?”
            O inquisidor entra na igreja e benze-se de olhos postos no chão, retira do bolso um lápis e um pequeno livro, onde anota todos os seus pensamentos, e seria exatamente isso que faria agora.
            Levantou os olhos para o púlpito de onde Vieira faria o seu sermão. De repente sentiu-se extasiado. Boca aberta, exprimindo a sua surpresa; olhos esbugalhados, tentando absorver cada detalhe: a talha dourada que ornamentava as belas capelas, as colunas preenchidos com videiras (simbolizando o vinho, sangue de Cristo), as belíssimas esculturas de mármore, todos os quadros nas paredes e pinturas no teto que, como ele sabia bem, simbolizando a auto afirmação da fé da igreja que idolatrava.
            Começavam a chegar os nobres, que se sentavam nas suas cadeiras ali colocadas pelos seus pajens no dia anterior; os diferentes membros do povo que, de pé, se acomodavam, ocupando gradualmente o chão de toda a igreja. Aos poucos o auditório do Padre António Vieira chegara e o Inquisidor aparentava apenas conseguir apenas concentrar-se nas pinturas do teto…
            Como eram belas! E os brasões! Em pedra, como os anjinhos que preenchiam as paredes de algumas capelas e, na cabeceira da bela igreja de salão, com a sua bela fachada de templo simétrico, com a estátua da virgem em baixo… e como era bela, com o seu olhar humanizado e o menino ao colo. Como o enchia de ternura tal imagem.
            O sermão já havia começado. Todos atentos, excetuando o Inquisidor, que nem notou a presença de Vieira… deambulava pela igreja apreciando as magnificas obras de arte, os azulejos que revestiam as paredes, o órgão revestido a ouro, a capela encomendada por D. João V, com o seu chão de mosaico reluzente e os mármores resplandecentes, a capela de Nossa Senhora da Piedade, onde ela segura o corpo sem vida de Cristo. – O Inquisidor torna a benzer-se – as colunas torças, as esculturas em vulto… tudo tão belo.
            Agradado por toda a beleza em seu redor o Inquisidor pega no seu caderninho e escolhe a capela de S. Roque para desenhar um ou outro detalhe… e o discurso decorre sem a sua atenção…

Francisco, 11º D

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